A criançada está de férias. Uma delícia para a família inteira, pelo menos nos primeiros dias, enquanto é novidade. Mas depois de 20, 30 dias em casa, o tédio começa a aparecer. Já brincaram de tudo o que podiam, cansaram de ir à praia (os que têm o privilégio de morar ou veranear próximo ao mar), não tem nada pra ver na televisão e nem os joguinhos do celular os encantam mais. Os pais, muitos mesmo sem confessar, já começam a olhar de canto para o calendário colado na porta da geladeira, pensando: Quanto tempo falta mesmo para o começo das aulas? A verdade é que casa cheia no verão só é bom quando dura pouco.

Continua depois da publicidade

Difícil entreter crianças e adolescentes o dia todo, principalmente quando os pais, depois de um ano estressante de trabalho, também querem aproveitar os dias de férias para descansar, ler, dormir, namorar. Os pequenos, principalmente, querem atenção. Tenho um casal de amigos que nas férias se divide: um dia ele sai para um programa com as duas meninas, enquanto a mulher descansa, toma um sol na piscina sem pressa e lê os livros empilhados ao lado da cama. No outro dia, é a vez dela. Aí, o marido fica com tempo livre para jogar beach tênis com os amigos, ver o que quiser no Netflix ou beber uma cerveja sem pressa. A família usa esta tática nos 31 dias de janeiro, sendo que nos fins de semana sempre fazem programas todos juntos. Parece que, para eles, funciona.

Eu fui criança criada no interior. Conheci praia só por volta dos 10 anos de idade, e mesmo assim íamos muito raramente, pois era longe da cidade onde morávamos . Assim como a maioria dos meus amigos, meu programa de férias era brincar na rua o dia inteirinho, até anoitecer. Aí, era hora de entrar, tomar banho, jantar e sair pra rua de novo, brincar mais um pouco na calçada, na frente de casa. Mais tarde, já na adolescência, tinha também a piscina do clube, local de encontro da galera. Sempre gostei de estudar, mas não me lembro de ficar entediada nas férias, até porque a gente sempre tinha muito com o que fazer: bicicleta, bola, jogo de taco, queimada, esconde-esconde, pega-pega… Sem contar os banhos de chuva, a melhor parte dos dias de verão, e a pilha de gibi do Tio Patinhas e da Mônica que eu devorava quando a mãe me mandava descansar um pouco.

Hoje, talvez as crianças que vivem nas cidades de interior ainda tenham férias parecidas com as que eu tinha, com liberdade para brincar na rua, sem medo de assaltos, atropelamentos e essa violência toda que, infelizmente, está muito perto de nós no dia a dia. As que vivem nas cidades grandes, entretanto, acabam confinadas a playgrounds de condomínios fechados ou pátios de casa, o que realmente limita muito as brincadeiras. Além disso, tem também toda esta tecnologia (celulares, games, TVs por streaming), que absorvem muito a atenção de todos. Mas cabe também aos pais estimular as brincadeiras ao ar livre ou, melhor ainda, brincar junto com os filhos na rua. Há quanto tempo você não joga um futebolzinho com as crianças, ou não se diverte num bom banho de chuva?

Continua depois da publicidade