Estava dentro do avião, que ainda nem tinha fechado as portas. Atrás de mim, uma criança de uns quatro anos de idade começou a choramingar porque queria voar e o avião não saía do lugar. A mãe nem dava bola, continuava a folhear a revista de bordo. De vez em quando respondia um sim ou não e pronto. A manha se transformou em gritos. Nada do avião sair e muito menos da mãe tomar uma alguma providência para acalmar aquela criança. Até que ela começou a chutar minha poltrona. Uma vez, duas, três vezes. Minha vontade era de esganar o guri e a mãe, e chamar os dois de mal educados. Quando estava pronta para tomar alguma providência, o avião começou a taxiar. Foi um alívio momentâneo. Não deu 10 minutos e ele começou a gritar porque queria balinhas de aviaozinho. Só que não é aquela companhia aérea que distribui as tais balinhas de gelatina em formato de avião. É outra. Recomeçou o berreiro e os chutes. E a mãe só dizia que, se ele não parasse quieto, iria levar uma surra quando chegasse em casa. Que maravilha de educação!
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Foi um dos voos mais chatos da minha vida, tirando as vezes em que a turbulência quase me matou de susto. Cada vez tenho mais certeza de que quando a criança faz birra e tem ataques de raiva, a culpa é a falta de limites dos pais. E isso ficou bem claro naquele dia. A mãe fazia de conta que nem era com ela, enquanto o guri incomodava o avião inteiro com seus gritos. Li dias atrás que as crianças de hoje em dia vivem em um mundo cheio de informações, imersas na cultura do ‘aqui e agora’, e ficam muito frustradas e com raiva quando têm de esperar para satisfazer suas vontades ou quando recebem um não.
Como agir, então, com nossos filhos para que eles não se transformem em “pequenos monstrinhos raivosos”? A psicóloga e consultora educacional Denise Franco afirma que quando os pais ensinam a criança a refletir mais, a pensar outras possibilidades para resolver um conflito num momento de raiva, estará ensinando a ela que o mundo pode esperar, que existem soluções. No entanto, uma ressalva importante da profissional diz respeito diretamente aos adultos: para que possam orientar os filhos, os pais precisam aprender a lidar de modo mais saudável com a própria raiva, entendendo que essa emoção não é sinônimo de intolerância. “Precisamos ajudar nossos filhos a exercitarem a reflexão, a calma, a possibilidade de encontrar novas respostas para seus problemas”. Aquela mãe do avião com certeza não age assim.
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