Juro que quando vi estas fotos dos adolescentes descendo a rua de carrinho de rolimã me deu um aperto no peito, aqueles que a gente tem quando bate uma saudade gostosa, de uma época que ficou lá no passado. Carrinho de rolimã! Há quanto tempo eu não ouvia falar deles. Fizeram parte da minha infância, criança criada em cidade do interior que podia brincar na rua o dia inteiro sem perigo nenhum. Fabricávamos nossos próprios carrinhos, com peças de sucata e alguns adereços surrupiados das caixas de ferramentas dos nossos pais. Aos olhos dos outros, eles podiam parecer apenas um caixote de madeira com rodinhas embaixo. Mas para nós eram supermáquinas, lindas e perfeitas, com as quais descíamos as ruas e ladeiras, grandes aventuras que nos rendiam muitas risadas e, claro, muitos joelhos ralados também.

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É, pois, com todo este saudosismo gostoso que aplaudo a iniciativa do professor Fábio Cunda, do 9º ano do Centro Educacional Municipal (CEM) Ariribá, de Balneário Camboriú. Ele foi muito criativo: em aulas práticas da disciplina de matemática, os alunos construíram e experimentaram o funcionamento de um tradicional carrinho de rolimã na atividade "Geometria, contextualização em construções e formas: construção de carrinho de rolimã". Os adolescentes se dividiram em grupos e fabricaram os carrinhos com materiais como madeira, rolamentos, bancos e estofamentos usados. Alguns até os personalizaram com brilhos e cores diferentes. O objetivo do professor foi resgatar a brincadeira clássica e ainda trabalhar as práticas matemáticas.

“Com o rolimã, retornamos à nossa época de infância, já que os pais dos alunos brincavam com os carrinhos, e eu também”, conta Fábio. Durante todo o processo de construção dos 25 carrinhos houve um grande envolvimento das turmas. Com a atividade, os alunos uniram teoria e prática, exercitando os princípios geométricos, criatividade, trabalho em equipe e resolução de problemas. O grande momento, porém, foi quando eles puderam experimentar as suas “máquinas” na rua lateral da escola. Para garantir a segurança de todos, agentes de trânsito fecharam a rua para o tráfego. Com certeza esse professor e essas aulas tão legais vão ficar guardadas para sempre na memória afetiva destes alunos, porque, vamos combinar: somente aula expositiva, durante uma, duas, três horas seguidas é muito chato. Digo isso como professora e como aluna também, afinal, metade da minha vida passei dentro de alguma instituição de ensino.

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Claro que o professor tem que estar lá na frente, explicando a matéria e tirando as dúvidas dos alunos. O que não pode é ser só isso. Encher o quadro de texto e mandar copiar há muito tempo deixou de ser sinônimo de bom professor, se é que um dia foi. Ensinar, de fato, é muito mais do que repassar conteúdo. É ensinar os alunos a pensar. É descobrir neles suas reais potencialidades – e dar oportunidade para que elas aflorem. É estimular a curiosidade e dar aquele “empurrãozinho” para que nossos jovens alunos se sintam confiantes para fazerem suas próprias descobertas.