Primeira aula de francês. Não entendo uma palavra do que a professora diz. Nunca estudei francês na vida, e, juro, nem fazia parte dos meus planos. Mas lá estava eu, fazendo um esforço descomunal para me concentrar e aprender aquele monte de acentos, alguns que não fazem o menor sentido (pelo menos pra mim).

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Ela, ali do meu lado, sempre atenta. Respondendo todas as perguntas da professora, e fazendo outras tantas também. Eita mulherzinha curiosa! Gosta de ler e aprender sobre todos os assuntos. Meu caderno, cheio de rabiscos. O dela, caprichado, letrinha de professora, tem só duas ou três folhas preenchidas.

“É que o resto eu já sei, ainda lembro do tempo do ginásio”, ela diz. Como é que pode lembrar de tanta coisa 65 anos depois? Eu mal saí da aula e já tinha esquecido a conjugação do verbo ser… je suistu es … o que mais, meu Deus??

Outro dia, o assunto era as capitais dos estados brasileiros e dos países. Ela tem em casa um mapa mundi na porta de um dos quartos. E canso de pegá-la distraída, olhando aquele globo, sabe-se lá imaginando o quê… Num esforço tremendo de memória, relembro as principais capitais, e mesmo assim ainda troco várias. Ela dificilmente erra. E, quando isso acontece, vai depressa tirar a dúvida no seu mapa.

Se surge uma palavra desconhecida, corre pra ver o significado no dicionário. Português, italiano, inglês, espanhol, francês. Sabe bastante de todos, embora teime em dizer que não. Além de inteligente e estudiosa, é humilde. Essa é a minha mãe. Pra mim, a melhor de todas. Meu orgulho. Aos 80 anos, quer aprender sempre mais. E me leva junto, mesmo que às vezes um pouco arrastada, como às aulas de francês… Mas pra vê-la feliz, tudo vale a pena… Je t'aime, parceira.

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