O alcoolismo de um dos cônjuges é um dos principais motivos de discussões, brigas e até de separações entre os casais. Foi o que aconteceu com Fernando e Julia. Eles estavam casados há 12 anos. Os desentendimentos tinham sempre o mesmo motivo: ele bebia além da conta. No começo, era só nos churrascos da família nos fins de semana. Depois, passou a chegar alcoolizado nas quartas-feiras, dia da tradicional “pelada” com os colegas de trabalho. Quando não havia nenhum evento, ele dava um jeito de beber em casa também, principalmente nos dias em que Julia tinha aula na faculdade à noite. Tudo aparentemente ia bem enquanto Fernando bebia socialmente, embora a mulher sempre achasse que ele exagerava. O problema começou de fato quando ele não conseguiu mais esconder que precisava beber diariamente para se sentir bem. Aí a coisa pegou e o casamento desandou.

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Segundo Marina Simas de Lima, psicóloga, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, o abuso ou a dependência do álcool dentro de um relacionamento amoroso ou no contexto familiar afeta a todos e se instala gradualmente. “A pessoa começa a beber socialmente, o que é normal e aceitável. A dependência se constrói aos poucos e depende de alguns fatores, como a predisposição genética, as relações sociais e o ambiente. O alcoolismo pode desestruturar por completo a dinâmica do casal e da família”, alerta. Em geral, o (a) parceiro (a) sente raiva, frustração e desesperança. Mas, na maioria dos casos, acaba se tornando codependente, pois ele/ela vive em função do alcoolista, procurando controlar todas as situações, e esquecendo de si mesmo.

No início da instalação do alcoolismo, não há prejuízos aparentes na capacidade funcional. Pode ser aquela pessoa que vai trabalhar todos os dias, mas que ao chegar em casa bebe bastante ou abusa aos finais de semana, por exemplo. Com o passar do tempo, se torna um dependente. A imagem que a maioria da população tem de um alcoolista é daquela pessoa que bebe muito, todos os dias, até cair e que não consegue fazer mais nada. Mas essa é a última fase da doença, explica Marina. Por exemplo, se a pessoa beber de 4 a 5 doses de álcool, num período de 2 horas, já é um sinal de alerta para procurar orientação, segundo os novos critérios da Associação Americana de Psiquiatra para o diagnóstico do alcoolismo.

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