Era 1940 quando Fermino de Rós e sua esposa Adelina, carregando nos braços o filho Edgar, de apenas 45 dias, chegaram à pequena localidade de Linha Caçador, interior do município de Treze Tílias, no Meio-Oeste catarinense. A família migrou de Nova Bassano, interior gaúcho, em busca de novas oportunidades e terras boas para agricultura. Foram três dias de viagem. Eles percorreram cerca de 400 quilômetros, utilizando vários meios transporte. Tendo como bagagem apenas algumas malas de roupas e um pouco de dinheiro, iniciaram a viagem num carro de bois, continuaram de ônibus e depois tomaram um trem.

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Em Itapuí, hoje município de Ibicaré, Fermino instalou esposa e filho numa pequena pousada e se dirigiu a pé até Treze Tílias, destino final de residência. Após 12 horas de caminhada, chegou ao local, onde já morava seu irmão mais velho. No dia seguinte, foi buscar Adelina e o filho. Mas desta vez cavalgava um cavalo emprestado. Tudo era incipiente na nova morada. Afinal, Treze Tílias tinha sido fundada havia apenas sete anos (dia 13 de outubro de 1933) pelo ex-ministro da agricultura da Áustria Andreas Thaler e algumas famílias de imigrantes, que fugiam da crise generalizada na Europa e buscavam no Sul do Brasil um lugar onde pudessem prosperar e viver em paz.

Quem conta esta saga familiar é a própria Adelina Verônica de Rós, que neste 11 de janeiro completa 100 anos de vida. Feliz, diz ter realizado todos os seus sonhos: teve bons pais e irmãos, casou-se com um homem bom, honesto e trabalhador, teve muitos filhos e criou todos dentro de seus padrões de valores. Ficou casada durante mais de sete séculos, até a morte de Fermino, aos 94 anos, em 2005.

As comemorações pelo centenário da vovó Adelina em Treze Tílias começaram no último domingo, dia 7, com uma missa festiva na Igreja Matriz e almoço no salão paroquial para mais de 500 pessoas. Na segunda-feira, recebeu o título de Cidadã Honorária de Treze Tílias, concedido pela Câmara de Vereadores, pelos 100 anos, mas sobretudo em reconhecimento ao desempenho da família Rós para o desenvolvimento do município. Ela fica encabulada com tantas homenagens, mas diz estar imensamente feliz por poder receber o abraço de seus sete filhos, 15 netos, 19 bisnetos, noras, genros, e também de todos os amigos da cidade.

O segredo da longevidade? Ela não precisa nem pensar antes de dar a receita: Fé em Deus, amor à família, viver em paz na comunidade e com todos, alimentação saudável (com base nos produtos da roça, sem veneno), tomar muita água, muita atividade física, bastante trabalho e poder dormir à noite sem preocupações.

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Muitas dificuldades no início da vida a dois

A família de Fermino e Adelina, como as demais da região, enfrentou todo tipo de dificuldade nos primeiros anos. Na colônia não havia energia elétrica, água encanada, a assistência médica era difícil. Adelina engravidou dez vezes, mas três filhos morreram de forma prematura, e todos vieram ao mundo de parto normal, alguns de alto risco e com muito sofrimento.

Nos primeiros anos viveram apenas da agricultura familiar. Entretanto, como eram pessoas de visão, diversificaram as fontes de renda, investindo na suinocultura, bovinocultura de leite e corte e na produção de grãos (soja, milho e trigo), além de pinus e araucária e comércio de madeira. Não à toa, a família ostenta o título de pioneira do agronegócio do município, já que contribuiu de forma decisiva para o setor produtivo de treze Tílias. Construíram em pouco tempo a casa da família, a mesma em que vovó Adelina criou todos os filhos e sempre residiu. Hoje, mora nela com um filho e sua família.

Fermino foi vereador, vice-prefeito e secretário de Obras. Enquanto isto, Adelina cuidava da casa e do marido, a quem sempre tinha sábios conselhos para dar. Além de mãe exemplar, esposa parceira e dedicada, Adelina tinha um objeto predileto na casa: sua máquina de costura de pedal, iluminada por uma lamparina a querosene. Era nela que confeccionava roupas para a família, inclusive para o marido, para seus empregados e vizinhos da comunidade. Também participava das ações da pequena capela, e era uma das lideranças da vizinhança, sempre acolhendo a todos.

Adelina chega aos 100 anos em condições de saúde invejáveis. Mantém boa memória, está lúcida, só usa óculos para leitura, ouve bem, é capaz de rezar o Pai Nosso em três idiomas: latim, italiano e português. Quer sempre ser informada de tudo e de todos os familiares, amigos e vizinhos. Hoje, passa a maior parte do tempo lendo, tricotando e conversando, recebendo sempre muitas visitas. Nos últimos dias, em razão do centenário, os abraços e beijos se multiplicaram, o que só a deixa ainda mais feliz.

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