Dona Adélia tem 70 anos. Um dia ela me disse que adora viajar, mas que não pode. Sei que ela tem boa saúde e que recebe uma aposentadoria decente. Quando perguntei porque ela não viaja, já que existem tantas excursões à disposição, ela me disse que nos últimos anos tem sido a responsável pelo sustento da filha e dos dois netos adolescentes. É com o dinheiro da sua aposentadoria que paga o aluguel da casa onde moram, e também as outras despesas do dia a dia. A filha está desempregada e só tem conseguido alguns empregos temporários. Dona Adélia não pode se dar ao luxo de gastar dinheiro com viagens, então se contenta em fazer pequenos passeios com a família nos finais de semana.
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Com a crise econômica que ainda afeta o bolso dos consumidores e o aumento do desemprego entre a população jovem, em muitos lares os idosos acabam sendo a principal fonte de renda, assim como Dona Adélia. Levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que 43% dos brasileiros acima de 60 anos são os principais responsáveis pelo pagamento de contas e despesas da casa. O percentual é ainda maior (53%) entre os homens. De modo geral, 91% dos idosos no Brasil contribuem com o orçamento da residência.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, diz que não é só a crise econômica que explica esses números, mas também as mudanças na sociedade. Há muitos casos em que a renda do aposentado é o sustento do lar de uma família que perdeu emprego, mas o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e suas atitudes nesta fase da vida também são fatores importantes. “Hoje, os idosos são mais ativos, têm mais autonomia financeira e trabalham por mais tempo, seja por necessidade ou porque se sentem dispostos”, explica a economista.
Outro dado que reforça a independência financeira de boa parte dos idosos é que 66% não recebem ajuda financeira de parentes, amigos, pensão ou programa social. Ou seja, vivem de sua própria renda. E ainda ajudam a família.
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