Agora mesmo eu e o Ricardo decidimos por fazer brigadeiro para comer. Minha mãe trouxe um pacote de lascas de côco já faz um tempo e, na ausência de uma ideia melhor do que fazer, decidimos por uma cocada de brigadeiro.

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Paramos ao lado da panela e comemos como se não houvesse amanhã. Sobrou um pouco, que deixamos lá e continuamos com nosso trabalho no computador. Nesse período home office, uma das garantias que posso entregar ao nutricionista, no futuro próximo, é a de que comi os doces que ele pediu que eu tirasse da dieta nos últimos dois anos, em um mês.

Não satisfeita, levantei e caminhei meio minuto depois para a direção da panela. Quando olhei para a colher e para o que estava fazendo, pensei que eu até poderia comer, mas que talvez eu não devesse, nem precisasse.

Eu ainda era criança quando o Papai Noel passou pela nossa rua. Quando chegou a minha vez, com as mãos cheias de bala e um pacote de pipoca, ele me desejou um feliz natal e eu agradeci, dizendo que não queria não, que o abraço já estava bom. Vez ou outra me vem à memória esse dia, e sempre me admira aquela menina que, dentro de mim, deixaria o brigadeiro para mais tarde – como consegui fazer hoje, voltando para o trabalho.

Quando chegou a minha vez, com as mãos cheias de bala e um pacote de pipoca, ele me desejou um feliz natal e eu agradeci, dizendo que não queria não, que o abraço já estava bom.

Uma vez esqueci meu celular em cima do carro e saí dirigindo. Quando senti falta, liguei para o meu número, quase não acreditando na sorte de alguém ter atendido. O menino disse que eu coloquei o celular no teto do carro, entrei e liguei o motor, e que o celular – sobrevivente – saiu voando. Me mandou o endereço de onde ele trabalhava e lá fui eu, na Av. Rio Branco, toda agradecida – porque eu não tinha certeza se eu conseguiria ver meu telefone denovo. Há leis que podem nos trazer determinadas liberdades, não necessariamente, obrigações. Mesmo as proibições, quando há intenção de agir, não oprimem o ser que está decidido. O menino poderia ficar com meu celular, mas ele foi honesto quando um outro tipo de papai noel fez celular voar na direção dele. 

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Naquele dia de quando eu era criança, lembro bem de ter sido vista como uma menina "sem noção" porque não quis pegar os doces, afinal era de graça, e eu "podia pegar". Sinto que minha decisão foi a mais inocente e honesta: eu não queria os doces. Em volta houve um olhar de "ela não sabe aproveitar" – e sempre aí para meu pensamento sobre se somos sempre justos quando tomamos as "oportunidades" de ter aquilo que não precisamos – atribuindo a isso uma sensação de vantagem – que acaba sendo o nosso peso na balança das coisas. Sinto que se não me é necessário e parte essencial da minha vida, deve pertencer ao outro, aquilo que parecia pertencer a mim.  

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