Sou fã da dúvida. Gosto do sentimento de “não saber” porque imediatamente ele me expande. Sem me iludir sobre quem eu me tornei, qualquer que seja a confusão, ela nos deve abastecer da introspecção bem refletida. Eu costumo me dividir em duas perspectivas básicas: A primeira que tem clareza, a segunda que não tem. Não espero ter clareza em tudo a todo tempo – porque dessa maneira me perderia na rigidez, além de estar enganada sobre o processo de evoluir. Possivelmente para crescer precisarei não saber alguma coisa – até saber. Partes bem definidas tomam o rumo da ação, e qualquer que seja a ação baseada na clareza sobre o que queremos, ela poderá ser momentaneamente desprovida da sensação do prazer, mas depois, aquele ato liberta. E porque temos clareza, conseguimos segurar o impacto das consequências. Mas é diferente sobre o agir sem ter certeza: do que desejamos e da suspeita de dar conta da colheita, sobre aquela ação.
Continua depois da publicidade
Eu estava em curso quando uma participante me chamou em um canto e disse: Vá, não sei se me separo do meu marido. Respondi: Se não sabe, não mexe. O que você já sabe que quer?
Sinto que muitas das vezes o que queremos não necessariamente é o que precisamos. Então, do que – inconvenientemente – precisamos agora? Mas me sinto culpada – ela disse e então, o rumo da conversa foi outro.
> Leia também: 10 aplicativos para cuidar da saúde física e mental
Também sou fã da culpa. Hoje estava em atendimento quando me perguntaram, em minha opinião, qual o processo necessário pelo qual devemos passar para crescer. Respirei, pensando profundamente, e respondi: para crescer precisamos da confissão. Quando confessamos nossos desejos, opiniões, e quando exploramos nosso julgamento e aceitamos o que sentimos, daí então somos capazes – e merecedores – da nossa natureza mais autêntica. Se não confesso, não assumo, portanto não me transformo, nem me recupero – sou o que esperam de mim, dessa vez convenientemente.
Continua depois da publicidade
Sinto que muitas das vezes o que queremos não necessariamente é o que precisamos.
A culpa é sinal de sanidade e de uma personalidade que reflete sobre o que faz, que se pesquisa e analisa. Pior o que age errado, e “na boa”, descansa. Assumir uma culpa é diferente de analisar suas informações e iluminar o que de sombrio reside nela. Quando a gente analisa o que sente, acaba por avaliar a legitimidade do sentimento ou a sua farsa. Clareza é um presente da confusão bem vivida e refletida – sem pressa, nem recato. Se há culpa, reflexão e análise, e confissão, um pedido de desculpas não nos deve gerar o temor, mas anteceder o sentimento de liberdade. Com ou sem conveniência, tomamos posse da vida que damos conta de viver, e crescemos inspirados no direito de fazer a escolha de ir ou a escolha de ficar – onde quer que estejamos.
Leia mais crônicas de Vanessa Tobias.
Leia também:
> Moradores de rua e o frio: o desafio de quem enfrenta o rigor da massa polar numa cama de cimento
> Neve em Florianópolis, Palhoça ou Rancho Queimado: descubra qual cidade tem mais chances