O longa ‘Emma’ (2020), drama de época indicado ao prêmio de Melhor Figurino no Oscar 2021, é a nova adaptação do clássico homônimo de Jane Austen. A versão cinematográfica mais recente do romance publicado em 1815 é dirigida por Autumm de Wild e protagonizada por Anya Taylor-Joy, atuação pela qual a atriz recebeu o Globo de Ouro. Além do figurino que conquistou a indicação ao Oscar, a arquitetura presente no filme, por meio de suas locações, é outro destaque.
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Claro, a experiência cinematográfica nos permite acessar a arquitetura de diferentes períodos históricos e territórios, descobrindo estilos e técnicas que se perderam no tempo e não são mais reproduzidas ou que, por uma ou mais razões, estão distantes da realidade geográfica do espectador.
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Além de ajudar a nos transportar para a atmosfera do filme e simbolizar aspectos de seu enredo, em alguns casos a arquitetura se desenvolve como um personagem que impulsiona aquela narrativa. Nessa relação a arquitetura se torna um dispositivo narrativo e, o cinema, um mundo por meio do qual podemos aprender e aumentar nosso repertório sobre ela.
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O conjunto de locações de ‘Emma’ envolve casas e edifícios históricos, como a All Saints Church, St Paul’s Walden, em Whitwell; Chavenage House, em Tetbury; Kingston Bagpuize House, em Oxfordshire; Wilton House, em Salisbury e; Firle Place, em Lewes. Entre as locações, estão edifícios caracterizados pela arquitetura georgiana, tudor e elisabetana. Sua locação principal, a casa da protagonista, é um exemplo clássico da arquitetura georgiana.
Firle Place – A casa de Emma Woodhouse

A arquitetura georgiana foi produzida ao longo dos reinados de George I, II, III e IV, período considerado a “era de ouro” da história da arquitetura britânica, e comumente situada entre os anos de 1720 e 1840. Empregado especialmente a edifícios menores, públicos e privados, com dois pavimentos, em áreas rurais e urbanas, esse estilo arquitetônico valoriza proporção, equilíbrio, harmonia e simetria no resultado final. Além da Inglaterra, foi reproduzido também nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e outras colônias inglesas.
Situada no parque nacional de South Downs, Firle Place, uma propriedade rural em Lewes, East Sussex, apenas a 60 milhas de distância do centro de Londres, foi a escolhida para representar a propriedade “Hartfield”, lar de Emma e seu pai, nessa adaptação ao cinema. A mansão do século XV foi originalmente construída no estilo tudor, o último estágio da arquitetura medieval na Inglaterra, mas passou por uma renovação no século XVIII, adotando os elementos da arquitetura georgiana, bastante presente no período retratado pelo filme. Essas primeiras características da propriedade logo informam o status econômico e social da família Woodhouse ao espectador.
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A estrutura dos edifícios georgianos, construída em tijolo ou pedra, emprega uma forma baseada no estilo clássica e incorpora em sua ornamentação elementos de outras estilos arquitetônicos como: barroco, ecletismo romântico, palladianismo, neoclassicismo, rococó e neogótico. O layout de janela geralmente é espelhado no segundo andar com a adição de uma janela extra sobre a porta de entrada principal, a qual costuma estar no centro da fachada do imóvel. Ainda sobre a porta principal, é também comum encontrar uma espécie de claraboia ou janela semicircular com barras de vidro irradiando de seu centro. Pórticos, arcos, escadarias e colunatas podem ser encontrados na entrada da propriedade.
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A mansão de Firle Place é disposta ao em torno de dois pátios e a propriedade se estende por quase 300 acres de terra, incluindo jardins e capelas. Durante a renovação realizada no século XVIII, os blocos de pedra caen do edifício foram reaproveitados para fornecer a atual fachada georgiana. Um destaque em frente à entrada é a janela serliana, ou palladiana, recurso arquitetônico do período renascentista e neoclássico. Configurando o estilo georgiano, o layout das janelas é espelhado e entrega a ampla janela extra sobre a porta principal.
O interior dos edifícios georgianos tende a apresentar menos características uniformes que a fachada, podendo, inclusive, contrastar com a sobriedade de seu exterior. Considerando que os seus espaços tendem a ser amplos e inundados por luz natural, diferente dos estilos arquitetônicos precedentes, a decoração tende a incorporar cores escuras ou intensas em suas paredes, seja pela tinta ou pelo papel de parede, além de tapeçarias, quadros e outros objetos.




Autumm, que também é fotógrafa, buscava uma casa em estilo georgiano que não tivesse sido vista em nenhum outro filme e cujos proprietários aceitassem mudanças para a adaptação ao longa. Assim, em seu interior, a escolhida Firle Place passou por uma reforma e nova decoração voltada à restauração dos elementos de seu passado georgiano. A pintura brilhante e colorida, o papel de parede estampado, painéis, adornos e as cortinas extensas ajudaram a caracterizá-la. Além disso, a produção buscou fazê-la provocar no leitor a lembrança de uma casa de bonecas, em alusão ao comportamento de Emma como manipuladora das histórias dos outros personagens, suas “bonecas”.
*Por Ágatha Depiné