A arte urbana, de rua ou arte pública, compreende as expressões artísticas que ocorrem no espaço público, da dança ao lambe-lambe. Sua manifestação mais frequente é o grafite, realizado em muros, calçadas, escadas e fachadas de edifícios, contrastando com os tons de cinza da cidade contemporânea. Geralmente essas expressões não passam despercebidas pelos caminhantes que exploram a cidade, podendo observá-las livremente e, até mesmo, interagir com obras ou performances.
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Admiração, curiosidade, nostalgia ou indignação são alguns dos diferentes sentimentos e reações que a arte urbana provoca. Seu propósito pode ser transmitir uma mensagem, estabelecer diálogos, fazer uma crítica, registrar a história, atrair visualmente, criar uma atmosfera afetiva ou dar novo significado a um espaço. Alguns cidadãos a percebem como vandalismo ou poluição visual, principalmente quando ela surge em locais não autorizados, de forma ilegal ou marginal. Entretanto, cada vez mais, a arte de rua autorizada, especialmente os murais, tem se tornado não apenas aceitável, como atrativa.
Essa linguagem não é novidade, considerando que murais e expressões próximas ao grafite fizeram parte da Grécia e Roma antigas, ainda que com características diferentes das contemporâneas. Foi apenas na década de 60 e 70 que o grafite passou a ser associado, inicialmente em Nova York e Paris, a movimentos políticos e sociais que o instrumentalizavam para seu discurso ou para uma pedagogia estética. Após uma série de mudanças na forma de fazer e de compreender a arte urbana, a última década trouxe consigo um crescimento exponencial de iniciativas como festivais, projetos, eventos, exposições, serviços turísticos e intervenções que dela se utilizam para beneficiar o espaço urbano.
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Cidades como Berlim, Buenos Aires, Lisboa, Nova York e Bogotá adotaram a arte urbana como parte fundamental de sua paisagem, além de estratégia para revitalização de espaços públicos e promoção da sua marca. Nesses territórios, áreas com circulação intensa de pessoas, diversidade cultural, concentração de talentos criativos, abertura da comunidade e a presença de elementos históricos ou tradicionais se tornaram especialmente atrativas e receptivas à arte urbana.
Um dos casos mais conhecidos é o de Wynwood, em Miami, bairro revitalizado com o apoio da arte urbana e que se tornou museu a céu aberto. Inicialmente um espaço degradado e hostil, marcado pela criminalidade, em poucos anos se tornou uma das principais atrações da cidade pela sua efervescência cultural e artística. Shoreditch, em Londres, também passou por uma revitalização ligada à arte urbana. De bairro operário a abandonado, o território experimentou décadas de deterioração, até que artistas começaram a utilizar os espaços do bairro como tela, mudando a dinâmica do território. Em ambos os casos a revitalização impactou o comércio, o turismo e o ramo imobiliário, entre outros aspectos da vida urbana.

No Brasil, a galeria de grafite conhecida como Beco do Batman, na Vila Madalena, se tornou uma das principais atrações turísticas de São Paulo. Os desenhos são renovados constantemente e a comunidade ajuda a conservar o espaço. Em Balneário Camboriú, a OpenStreetGallery, uma galeria de arte urbana a céu aberto e com vista para o mar, tem buscado resgatar a cultura e a história da Barra e de seus moradores, um tradicional bairro de pescadores por meio do qual a cidade se desenvolveu.
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Os moradores participam do processo de produção e, ainda, dão suporte e apoio aos artistas. As obras da galeria fazem parte de um roteiro cultural que busca resgatar e valorizar a história local por meio da arte de rua. Murilo Trevizol, membro da OpenStreetGallery
Em processos como esses, os tours e roteiros de visitação também têm conquistado um papel de destaque. Eles permitem novas descobertas e diminuem a distância entre a arte e a população. Em Florianópolis, projeto patrocinado pelo município, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Florianópolis, alia o tour de arte urbana à tecnologia. O Street Art Tour disponibiliza informações dos murais de arte urbana do município em seu aplicativo digital gratuito e permite a navegação via GPS por um mapa interativo das obras, criando um museu de arte urbana digital. Outras iniciativas, fora do ambiente virtual, também são realizadas pelo projeto, contando com o apoio de entidades privadas, a exemplo da galeria vertical no Conjunto Habitacional Via Expressa, no Bairro Abrãao. Confira abaixo a transformação realizada neste espaço:
Em diferentes intervenções é possível destacar o apoio da administração pública, entidades privadas e sociedade civil, pois a arte pública, enquanto produto cultural da cidade, pode aumentar a vitalidade das ruas, legitimar as narrativas urbanas e fortalecer a marca do local, beneficiando não apenas a área cultural, mas também o comércio, o turismo e. o bem-estar da população. Além disso, quando seu conteúdo contribui para representar aspectos da identidade urbana ou resgatar sua memória, a coesão social e o senso de pertencimento da população são intensificados, beneficiando diretamente os cidadãos e as comunidades.
*Por Ágatha Depiné
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