As ondas eleitorais têm uma característica interessante. Quando acontecem, os surpreendidos tentam entender como deixaram de perceber antes o que se tornou tão evidente. Saber ler e antever o comportamento dessas ondas é algo que decide uma eleição. Nessa linha, Luciano Buligon hoje é o Casildo Maldaner de 2002.

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Voltemos no tempo. O petista Lula liderava as pesquisas presidenciais naquela que seria sua primeira vitória em disputas pelo Planalto. Em Santa Catarina, o governador Esperidião Amin era favorito à reeleição e apoiava José Serra (PSDB). O principal adversário era Luiz Henrique da Silveira, também formalmente aliado ao tucano. Serra deu todos os sinais de preferência por Amin e restou ao PMDB construir uma aproximação com os petistas que seria vital para a virada no segundo turno – LHS venceu por 20 mil votos de diferença.

Essa construção começou no primeiro turno quando Casildo, senador e candidato a reeleição pelo PMDB, declarou voto em Lula. Tentou agarrar para si aquela onda que se formava. Não suficiente para a própria eleição, mas começou a pavimentar a aproximação que resultaria na vitória de Lula e LHS entre os catarinenses.

Na segunda-feira, o prefeito chapecoense Luciano Buligon fez um movimento que lembra aquele do cacique emedebista. Contrariando a orientação nacional do PSB, anunciou apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Líder nas pesquisas nacionais, o capitão reformado do Exército apresenta aceitação ainda mais em terras catarinenses. Não tem dono no Estado – considerando a pouca expressiva posição do PSL local, improvisado este ano por lideranças que em sua maioria estreiam nas urnas.

Buligon não é candidato, mas é um dos principais cabos eleitorais de Gelson Merisio (PSD). Foi sumariamente expulso do PSB na terça-feira – um risco calculado. Em Santa Catarina, pessedistas e pessebistas são irmãos. O anúncio do prefeito é um primeiro sinal da composição de Merisio de que vai abraçar Bolsonaro. Até então, o candidato a governador apoiava-se no fato de que sua ampla coligação tem diversos candidatos a presidente para evitar posicionar-se no primeiro turno. Desde que a candidatura de Merisio estava na prancheta, era claro que parte do projeto previa um confronto direto com MDB e PSDB e que o diferencial poderia ser o eleitor de esquerda.

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A onda Bolsonaro gerou necessidade de voltar à prancheta. Merisio apresenta crescimento junto a eleitores do presidenciável do PSL. O plano original, com acenos à esquerda, poderia afastá-los. O PT dá sinais de recuperação em Santa Catarina, mas a rejeição ao partido ainda é grande. Em 2014, as pesquisas colocavam Aécio Neves (PSDB) em segundo lugar no Estado e as urnas lhe deram 52% dos votos válidos. Com Geraldo Alckmin (PSDB) naufragando e Bolsonaro encarnando praticamente sozinho o antipetismo, não é se duvidar que os números se repitam. Essa é a onda que a campanha de Merisio tenta ler e antever. Buligon deve ser apenas a primeira e simbólica adesão.