Por uma série de fatores aleatórios, a Ilha de Santa Catarina tornou-se em 1893 um dos principais palcos da Revolução Federalista, que tentava apear do poder o presidente Floriano Peixoto. Capital de Santa Catarina, ainda sem pontes, ainda Desterro, a cidade foi tomada pelos revoltosos e tornou-se, por sete meses, a “capital revolucionária do Brasil”.
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Quando conseguiu retomar o controle de Desterro, Floriano Peixoto mandou como interventor o coronel Antônio Moreira Cezar. A repressão aos que participaram, apoiaram ou simpatizaram com os revolucionários é uma das páginas mais tristes da história catarinense – com um até hoje incerto número de fuzilamentos.
Moreira Cezar governou Santa Catarina entre 19 de abril e 28 de setembro de 1894, quando passou o cargo para Hercílio Luz. Dias depois, o caberia ao catarinense sancionar a primeira lei de seu mandato: a mudança do nome da cidade para Florianópolis, homenagem ao presidente que mandou Moreira Cezar para cá.
Historiadores divergem sobre o papel de Floriano no clima de caça às bruxas implantado pelo coronel. Excessos foram imputados à personalidade do militar, que poucos anos depois morreria na Revolta de Canudos. Narrador do conflito em seu Os Sertões, Euclides da Cunha dedicou páginas para descrever o temperamento de Moreira Cezar. Aqui, poucas linhas bastam: “Assim, era um desequilibrado. Em sua alma a extrema dedicação esvaía-se no extremo ódio, a calma soberana em desabrimentos repentinos e a bravura cavalheiresca na barbaridade revoltante”. Impossível que Floriano não soubesse o que significava sua escolha como interventor em Santa Catarina – mesmo que não tenha havido ordem expressa de massacre.
Nesta sexta-feira, primeiro dia de junho de 2018, Pedro Parente pediu demissão da presidência da Petrobras. Não suportou as pressões para que deixasse o cargo e a pecha de ser o responsável pela conflagração dos caminhoneiros e os dias de caos que o Brasil viveu por conta da greve da categoria contra o alto preço e as seguidas variações do preço do diesel. Até duas semanas atrás, Parente era o competente gestor técnico que tirara a maior estatal brasileira do buraco em que fora metida pela corrupção sistêmica, má-gestão e influência política nas decisões sobre o preço dos combustíveis.
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O leitor talvez ache que enlouqueci ao misturar aparentemente sem propósito 1894 e 2018, federalistas e caminhoneiros, Moreira Cezar e Pedro Parente, Floriano Peixoto e Michel Temer. Esta é a chave. Quando o presidente Temer escolheu Parente para a Petrobrás, sabia quem era, sabia o que faria. Aplaudiu o que fez. As culpas de Parente, se existem, são de quem o escolheu sem pensar nos efeitos que uma gestão mais preocupada com a saúde da Petrobras do que com a dos consumidores teria sobre o país.