O engajamento dos militantes do partido nas redes sociais e a melhora dos índices do presidenciável João Amoêdo nas pesquisas colocaram o Novo – uma das mais novas legendas do país – na agenda eleitoral nos últimos dias. De inspiração liberal e regras rígidas de organização interna, o partido recebe críticas da esquerda por questões ideológicas e de eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) por roubar votos que poderiam ir para o candidato. Por sua vez, gera olhares atentos de quem busca renovação de nomes e práticas na política.

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Na quarta-feira, aceitei um convite para um café com o Novo. Acompanhado por candidatos do partido, o presidente estadual Eduardo Ribeiro explicou os projetos e as ambições do grupo – sem esconder o entusiasmo com o crescimento, ainda tímido, de Amoêdo.

Criado em 2015, o Novo disputa sua primeira eleição em Santa Catarina. Decidiu priorizar a eleição para a Câmara dos Deputados. Todos os 16 candidatos do partido no Estado disputam a vaga de deputado federal – cabe a eles alcançarem um quociente eleitoral que deve ficar em torno de 220 mil votos para a conquista de cada cadeira.

Contrário aos fundos eleitoral e partidário, o Novo abriu mão dos recursos que a que teria direito. Mantém-se com a contribuição dos filiados – em Santa Catarina são cerca de 1,4 mil – que desembolsam R$ 28,90 por mês. Prometem abrir mão de benefícios caso sejam eleitos.

O discurso liberal move o grupo – a linha do incentivo ao empreendedorismo, da desburocratização, do Estado menor, das privatizações. Rejeitam a pecha de que sejam conservadores nos costumes. O Novo defende o fim do Estatuto do Desarmamento e também o casamento igualitário. O aborto e a legalização das drogas são temas ainda abertos no partido – cada filiado pode ter sua própria posição.

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Na mesa do café, os candidatos eram um dentista, um empresário, um engenheiro que se aposentou depois de 30 anos empregado na Caixa e um médico oftamologista. Nunca disputaram eleições, nunca se filiaram a outro partido. Têm origens e discursos semelhantes, assim como os demais candidatos do partido. Quem for eleito, se acontecer, sabe que deve seguir a orientação da legenda. Um termo de compromisso é assinado previamente. O estatuto proíbe que os eleitos deixem mandatos para concorrer a outros cargos e mais do que uma reeleição no Legislativo. Não é à toa que o partido surfa na onda da antipolítica.

É curioso que em aspectos de organização em interna, de busca inflexível pela fidelidade partidária e unidade de discurso, o Novo lembra alguns partidos de esquerda. Em termos de propostas, não traz nada muito diferente do que prometem e prometeram outras siglas de centro-direita. Garantem que serão diferentes quando chegarem ao poder – o que também já foi prometido. Se Amoêdo continuar crescendo e ganhar espaço nos debates, o partido pode mostrar a que veio. Se é um projeto consistente de poder ou um partido de nicho, focado em um discurso ideológico – ou seja, um PSOL às avessas.