Na sexta-feira termina o prazo para inscrições na prévia do PMDB para a vaga de candidato do partido ao governo do Estado. O modelo defendido pelo presidente estadual e pré-candidato Mauro Mariani foi aprovado pela executiva estadual na semana passada. Apontado como possível adversário, o prefeito joinvilense Udo Döhler voltou a criticar a forma de escolha da candidatura e disse que ainda não decidiu se aceita participar. Alega que “a prévia é fake” e “um abafa para os prefeitos”, que precisam renunciar em abril para disputar as eleições.

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Em entrevista exclusiva, Döhler apresentou-se pela primeira vez como pré-candidato, defendeu que o próximo governo priorize a gestão e reduza estruturas para fazer frente às dívidas do Estado. Argumenta que os meses de fevereiro e março deveriam ser usados para construir uma aliança com outros partidos, preferencialmente PSD e PSDB, e não para a disputa interna.

Leia a íntegra da conversa.

Como senhor avalia as prévias do PMDB para o governo?

Se em dado momento não tiver inscrições para a prévia, ela não acontece. Logo, ela é fake. Quem poderia se habilitar seriam os prefeitos do Estado. É pouco provável que o vice-governador (Eduardo Pinho Moreira) o faça, porque ele vai assumir o governo agora em fevereiro. Essa data (inscrição na sexta e votação em 17 de março) é um abafa para os prefeitos. A data (para renúncia) é em abril, logo em fevereiro e março os encaminhamentos podem acontecer. Nós defendemos o diálogo.

O senhor avalia que essa prévia, com essas datas, foi um forma de emparedar sua pré-candidatura?

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Eu não sei se essa foi a intenção da prévia, mas é estranho ter uma leitura diversa dessa. Qual a contribuição que a prévia poderia trazer? Se não aparecerem inscritos, ela perde o sentido. Essa prévia é fake. Agora, o que mais estranha não é isso. É que ela inibe o diálogo. Temos uma data apenas para os prefeitos abrirem mão dos mandatos. Essa é a data. Temos aí um espaço de dois meses para instalar o diálogo. Nossa leitura é de que isso só pode ser salutar. A prévia vai fazer o quê? Vai delegar a um candidato o que fazer. Se esse diálogo não for bem sucedido nesse período, a chance é de não trazer nenhuma contribuição positiva.

Como o senhor vê a pré-candidatura do deputado Mauro Mariani?

É legítima, ele está correndo o Estado, ele é um parlamentar competente. Mas nossa leitura é de que o diálogo é essencial. Hoje, se nós formos para candidaturas puras, teríamos em princípio quatro candidatos: um do PSD, um do PMDB, um do PSDB e um do PT. O que aconteceria? Em uma semana, na passagem para o segundo turno, teria que se fazer uma composição. Isso é quase um exercício de feitiçaria. Se agora, com esse período todo antes da eleição, não é feita essa construção. Se a proposta for individual (chapas puras) a chance de uma boa solução é mínima. Agora, quando se instalar o diálogo, a chance de se buscar uma solução melhor é clara.

Existe uma avaliação de que o senhor seria o candidato da aliança e Mariani seria o candidato do fim da aliança. Concorda?

Deixa eu dizer com cuidado o seguinte: hoje não faz nenhum sentido dizer “eu quero ser candidato a governador”. Hoje o que faz sentido é examinar a proposta que leva alguém a querer assumir o governo do Estado. Até agora, por falta de diálogo, nós não ouvimos ninguém falar nada a respeito. Quando muito, um candidato diz “olha, a prioridade é segurança”. Como se segurança fosse mais importante do que educação, saúde e que tais. Isso frustra. Sabemos que a situação financeira do Estado não é tão confortável assim. Só essa já seria uma questão suficiente para ser levantada: o que fazer sobre isso nesses quatro anos? Quando chegamos à prefeitura de Joinville, em 2013, encontramos um passivo que nos incomodou muito. Tivemos que fazer uma adequação da dívida ao longo de quatro anos e liquidamos todo esse passivo. Hoje o município é solvente, está com seus compromissos praticamente em dia, tem atrasos de 90 a 120 dias que são normais no serviço público. Isso nos dá um relativo conforto. Temos um fluxo de caixa que administramos diariamente e nos permitiu calibrar no dia a dia para lá na frente não termos surpresas. Como conseguimos fazer isso hoje? Porque limpamos o passado. O que fazer com esse passivo de R$ 1 bilhão na saúde (do Estado), por exemplo? E aparentemente não está ali o grande problema, existem outros, como os precatórios. Questões que não são discutidas, o que fazer para deixar o Estado em uma situação financeira mais confortável. O diálogo permite essa abertura. Então, não faz nenhum sentido dizer “quero ser candidato”. Quem vai decidir isso é o partido na busca de uma coligação e na minha leitura a tríplice aliança é um bom caminho. Se não for esse, uma outra solução seria encontrada. Mas não é na prévia que vamos achar solução.

A prévia fortalece a divisão?

Vou ser um pouco mais cuidadoso. Ela dificulta a unidade.

Mas existe uma data para inscrições à prévia, que se encerra sexta-feira. O senhor já decidiu se participa?

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Neste dia estarei em Florianópolis para assistir a posse do desembargador Rodrigo Collaço na presidência do Tribunal de Justiça.

Mas o senhor decidiu se inscrever?

Essa decisão vou tomar até o dia 2.

O senhor achar que o tema a ser discutido na campanha eleitoral é o passivo do Estado?

Não só o passivo. A gestão como um todo. Eu citei o passivo porque ele mostra um desconforto importante. Esse R$ 1 bilhão incomoda porque bate na saúde. Isso preciso ser equacionado. A gestão como um todo pode passar por uma revisão. Nós fizemos isso em Joinville. Eliminamos as secretarias regionais, que viraram subprefeituras, reduzimos secretarias, acabamos com toda a administração indireta. Não existem mais fundações, tínhamos uma porção delas aqui. Isso permitiu que nossa situação ficasse mais confortável. Lembro que nos primeiros anos da gestão eu ficava angustiado pensando se ia conseguir pagar o salário no final do ano. Era um pesadelo. Isso hoje desapareceu porque solucionamos o problema com gestão.

Podemos perceber que desejo de disputar o governo o senhor tem…

Nós estamos à disposição para ajudar o Estado de Santa Catarina. A busca para ser governador não faz sentido nenhum. Fui eleito prefeito em 2012, não tinha trânsito político nenhum, tinha aqui outras cinco candidaturas que trabalhavam fortemente. Agora em 2016 foram oito candidatos no primeiro turno e todos se posicionaram contra nossa candidatura. Isso é um voto de confiança da população que eu não posso frustrar. Joinville terá que ser ouvida na sucessão estadual. Não faz sentido dizer “estou fora”. Estamos mantendo nosso posicionamento para ajudar o Estado.

Para ser candidato, o senhor precisa derrubar os caciques dentro e fora do PMDB?

Vamos nos ater à tríplice que nós defendemos e que para muitos já teria naufragado. Nós sabemos que ela enfraqueceu. O próprio governo vota contra si mesmo na Assembleia Legislativa, vota aumento de despesa. Agora, se não se construir uma coligação, tanto faz essa da tríplice aliança ou um entendimento que fique fora do que nós achamos que deve ser a melhor, isso poderia causar prejuízos grandes ao Estado. Temos vivido algumas simulações em que um candidato que se coloca há temos como ao governo pode acabar vice de outro. Isso não faz sentido. Isso nos deixa desconfortável, a falta de disposição para o diálogo. Se não houver diálogo, a chance de o Estado perder é iminente.

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