Negue-se tudo a Michel Temer (MDB), menos o dom de desdizer-se. Assumiu a Presidência da República em 2016 após o traumático processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) garantindo que não pensaria em disputar a reeleição. Armou-se de uma agenda de reformas, montou um governo que incluía nomes que oposição à gestão petista e chegou a proclamar as maravilhas de impopularidade — um salvo-conduto para medidas amargas que achava necessárias.

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Sempre se acreditou que a se solução Temer desse minimamente certo ele reveria esta posição. O curioso é que aconteceu justamente o contrário. Quanto mais impopular ficou, quanto menos avançou sua agenda reformista, quanto mais forte pegou o carimbo do “tem que manter isso, viu?” do inapropriado diálogo com Joesley Batista, mais o presidente emedebista passou a deixar que aliados espalhassem a ideia de disputar a reeleição. Nos últimos meses, ele mesmo se colocou no cenário, embora nas pesquisas amargasse 1% das intenções de voto.

Ontem, Temer voltou à realidade ou deixou-se derrubar por ela.
Nas últimas semanas, o Planalto ouviu dirigentes de todos os Estados sobre o que achavam da candidatura Temer. Inconveniente foi o mais brando dos adjetivos. É nos Estados que está a força do MDB, sempre liderando os rankings de número de governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores. Isso foi conquistado com muito pragmatismo e quase sempre abrindo mão de um projeto nacional.

Diante das resistências estaduais, o ex-ministro Henrique Meirelles ganhou força como opção do Planalto para não capitular da defesa do governo Temer na campanha eleitoral. O antigo manda-chuva da Fazenda deixou claro que estava disposto a fazer esse papel se fosse necessário para viabilizar o velho sonho de ser candidato a presidente da República. Esse gesto veio quando trocou o PSD pelo MDB às vésperas do prazo fatal para migração partidária mesmo sem garantia do posto.

Meirelles fez os gestos a Temer, ao senador Romero Jucá e fará a quem mais for necessário. Traz consigo a disposição de utilizar grande volume de recursos próprios — conquistados em sua brilhante trajetória no mercado financeiro — em sua campanha. Música aos ouvidos dos emedebistas espalhados pelo país e nada interessados em dividir o Fundo Eleitoral com um sonho temerário.

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Meirelles tem menos de três meses para unir em torno de si o chamado centro, ou pelo menos parte dele. Nas pesquisas não demonstrou até agora maior fôlego do que o presidente, mas está livre dos escândalos e traz no currículo a boa passagem pelo comando do Banco Central nos anos Lula (PT) e os tímidos números da atual recuperação econômica. Serão seu estandarte. Para os palanques locais, como o catarinense, é um nome mais leve do que Temer. Tanto para carregar ao palanque, quanto para largar na estrada.  

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