A Operação Lava-Jato mudou o Brasil. É difícil que alguém discorde dessa frase tão curta e tão definitiva – mesmo seus críticos, talvez eles especialmente. Ela deu vazão a uma insatisfação difusa da sociedade com a classe política, já manifestada nas ruas em junho de 2013, mas que ainda não encontrara um vetor. A partir de 2014, delegados da Polícia Federal, procuradores do Ministério Público Federal e juízes de primeira instância como Sério Moro tornaram-se os heróis que a massa pedia.
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A classe política reagiu de formas diferentes. Parte dela, os partidos governistas acoplados ao projeto de poder do PT, ficou acuada. Eram os alvos iniciais. A oposição, insuflou. Era a novidade que poderia interromper a sequência de vitórias eleitorais que colocaram Lula e Dilma Rousseff na Presidência da República. Todos acabariam alvo – se não das prisões, do desgaste generalizado da classe política que ajudou a criar o clima que possibilitou a chegada de um outsider como Jair Bolsonaro (PSL) ao poder – e, com ele, Sério Moro no Ministério da Justiça.
Esse preâmbulo histórico é para situar o peso da decisão da noite desta quinta-feira, quando o STF formou maioria – 6 a 3 – para dizer que podem ser anuladas condenações em que o réu não teve direito a apresentar alegações finais depois das dos réus delatores. As delações sempre foram um dos principais instrumentos da Lava-Jato, não apenas fundamentando condenações, mas criando as narrativas que mantinham a sociedade atenta e ao lado de seus heróis.
Não é um tiro fatal na Lava-Jato. Algumas dezenas de condenações talvez precisem ser julgadas novamente – uma delas envolve o ex-presidente Lula, principal troféu da operação, mas isso não é suficiente para tirá-lo da cadeia. No entanto, mostra que as instituições, Supremo à frente, perderam algo que norteou estes cinco anos em que a Lava-Jato mudou o Brasil: perderam o medo de confrontá-la.
Esse talvez seja o maior resultado da série de vazamentos de conversas dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol à frente, divulgados pelo site The Intercept e outros órgãos jornalísticos. O Supremo viu-se alvo também e reagiu. A Lava-Jato, que hoje não é apenas uma operação, mas um sentimento vivo na sociedade, deve reagir também. Preparemos-nos todos.
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