Depois de duas semanas pouco produtivas e muito conflituosas, a CPI dos Respiradores terá agora aqueles que talvez sejam seus momentos mais emblemáticos na tentativa de desvendar a atuação política na desastrada compra de 200 respiradores de UTI por R$ 33 milhões. Na terça-feira serão ouvidos os ex-secretários Douglas Borba (Casa Civil) e Helton Zeferino (Saúde), além da servidora Márcia Regina Pauli, ex-superintendente de gestão administrativa da Saúde.
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Esses três depoimentos prestados a nove deputados de ampla maioria hostil ao governador Carlos Moisés (PSL) tem o poder de fazer aquilo que só uma investigação parlamentar conseguirá: desnudar responsabilizações políticas para o caso que colocou em crise a gestão do pesselista em meio à pandemia do coronavírus. O ápice se dará dois dias depois, na quinta, quando o trio fará uma acareação para que fiquem ainda mais expostas as contradições de narrativa.
Os primeiros movimentos da CPI, especialmente os depoimentos do início da semana que passou, deixam claro os limites que esse tipo de investigação tem quando corre paralelamente a uma força-tarefa como o da Operação O2, com Polícia Civil, Ministério Público de SC e Tribunal de Contas. Nove deputados, por mais empenho que tenham, não dispõem dos instrumentos dessas três instituições reunidas.
Ainda mais, quando estes deputados batem cabeça. O relator Ivan Naatz (PL) já teve o trabalho questionado publicamente, durante as reuniões por João Amin (PP), Moacir Sopelsa e Valdir Cobalchini, ambos do MDB. O pepista brigou para que se ouvisse logo a trinca desta semana, enquanto os emedebistas questionaram o foco dado na semana que passou à operação abortada de instalação de um hospital de campanha em Itajaí – questionável, mas fora do objeto da CPI. O rumo começou a ser encontro, ainda de forma conflituosa, na quinta-feira, com o depoimento do controlador-geral do Estado, Luis Felipe Ferreira – que não conseguiu convencer os parlamentares da capacidade da CGE de antever os casos e de ser levada em consideração quando consegue.
Por isso que as falas de Douglas, Hélton e Márcia Regina pesam tanto neste momento. Elas podem, finalmente, dar um rumo a uma CPI ainda cambaleante. Por mais processos de impeachment que sejam apresentados, nenhum deles vai adiante se não ficar explicitamente configurado que Moisés teve algum envolvimento na série de erros e indícios de malfeitos nessa compra de respiradores que os catarinenses pagaram antecipadamente e ainda não tem expectativa de ver em uso.
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Fora da linha
Embora pudesse ser útil na atual conjuntura, não é para o Batman que o deputado estadual Laércio Schuster (PSB) estava telefonando dentro do plenário da Assembleia Legislativa na quarta-feira. O aparelho vermelho que ele levou à bancada é uma ironia ao anúncio de que o governador Carlos Moisés (PSL) agora tem um telefone exclusivo para falar com os parlamentares. A falta de diálogo com a Alesc é um dos ingredientes da crise política do governo e há uma tentativa de mudar essa lógica. Oposicionista, aparentemente Schuster não está interessado no batcanal de Moisés.
Frase da semana
Se um deputado não consegue levar uma ação do governo para sua comunidade, não tem informação sobre o que o governo está fazendo e não consegue conversar com o governador, para que ser situação? É mais fácil ser oposição e pontuar erros e equívocos
Gelson Merisio (PSDB), ex-deputado estadual e adversário do governador Moisés no segundo turno em 2018, em uma aula grátis sobre situação e oposição no parlamento. A íntegra da entrevista está no podcast Cabeça de Político. Ouça a íntegra da conversa abaixo, no Spotify, na Apple ou no Google Podcasts.
Tudo novo no PSD da Capital
O PSD de Florianópolis aproveitou o fim do prazo de filiações para a eleição deste ano, em abril, para reorganizar-se. O partido de Cesar Junior estava em frangalhos após o ex-prefeito não conseguir se eleger deputado federal em 2018, com baixíssima votação na Capital. Com a deputada estadual Marlene Fengler na presidência municipal, o PSD alinhou-se ao antigo adversário Gean Loureiro (DEM) e filiou o presidente da Câmara, Fábio Braga (ex-PTB). O próximo passo é emplacar o candidato a vice-prefeito. Para este posto, foi filiado o empresário Marcelo Fett – ligado ao setor de tecnologia e inovação.
As contas do impeachment
Os pedidos de impeachment contra Carlos Moisés continuam sob análise da fundamentação formal e jurídica na procuradoria da Assembleia Legislativa, mas o Centro Administrativo já faz contas sobre os votos necessários para impedir um possível afastamento do governador. A medida precisa de dois terços dos parlamentares, então bastam 14 dos 40 votos para evitá-la. Em resumo, se Moisés convencer os nove emedebistas e os quatro petistas a não aderirem ao impeachment, estará garantido com alguma folga, considerando que ainda tem aliados do antigo bloquinho do qual faz parte Paulinha (PDT), líder do governo.
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Curtas
– O PSL-SC já tem nome para o lugar de Douglas Borba na secretaria-geral do partido. É o ex-deputado estadual Dalmo Claro, que se filiou à sigla em abril para ser pré-candidato a prefeito de Joinville.
– Moisés chegou a convidar a bancada do PT para uma almoço na quarta-feira que passou. Os petistas se dividiram sobre aceitar o diálogo ou manter distância da Casa d’Agronômica. Por ora, preferiram não fazer o encontro.
– De qualquer forma há quase um raro consenso entre os petistas. Só embarcam na ideia de impeachment se a vice-governadora Daniela Reihner (PSL) também for atingida. Acreditam que ela colocaria os bolsonaristas no governo.
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