Santa Catarina não vivia um segundo turno há 12 anos, desde que Luiz Henrique da Silveira (PMDB) e Esperidião Amin (PP) protagonizaram uma revanche da disputa de quatro anos antes. O peemedebista venceu aqueles dois históricos confrontos precisando encarar como última batalha uma duelo com uma arma em que o rival era reconhecido por ter maior destreza: o debate na antiga RBS TV às vésperas da votação.
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Diz a lenda – e assessores próximos – que Luiz Henrique sabia que teria dificuldades diante da oratória do adversário. Um dos temores seria de que o peemedebista se exaltasse diante das provocações de Amin e que parecesse descontrolado ou nervoso ao eleitor. A lenda continua: LHS teria sido levado a caminhar na areia da praia de Itapema, onde tinha casa, no dia do confronto. Cansado, pouco reagiu a Amin. Perdeu o debate, mas saiu inteiro para vencer as eleições.
O mundo mudou muito nestes 12 anos. Luiz Henrique está morto, Amin é senador eleito, o PMDB perdeu o P, 17 deixou de ser só um número, a televisão perdeu força para as redes sociais como fator definidor do voto, os debates não são mais determinantes – a ponto de candidatos abrirem mão deles.
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL, fenômeno da vez, deu o tom este ano ao esnobar os debates do segundo turno contra Fernando Haddad, do PT). Ele se justifica pelo atentado que sofreu no primeiro turno e do qual ainda não está totalmente recuperado. Assim, não teremos em nível nacional o tradicional último encontro entre os candidatos – como foi de Collor e Lula a Dilma e Aécio.
De última hora, Santa Catarina também perdeu esse espaço, talvez o mais visível e arbitrável, de confronto de candidaturas. Na tarde desta quinta-feira, horas antes do encontro na NSC TV, o líder nas pesquisas Comandante Moisés (PSL) anunciou agravamento de problemas de saúde – infecção respiratória agravada pelo ritmo da campanha – e colocou em dúvida a participação no debate. A ausência foi confirmada no início da noite.
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Precisando reverter a ampla vantagem de Moisés, Gelson Merisio (PSD) foi entrevistado por 20 minutos no mesmo horário. O debate não tem vencedor. Perde o eleitor catarinense. Candidato de uma onda nacional bem trabalhada localmente, Moisés chegará à eleição como uma incógnita. Foi escolhido às vésperas das convenções, apresentou um plano de governo de míseras cinco páginas, não detalhou propostas, não permite vislumbrar quem estará com ele se eleito. Tudo que Merisio tem de previsível – por sua trajetória, por seu grupo político e por suas alianças -, Moisés tem de mistério.
O debate da NSC TV era a maior chance de o eleitor catarinense conhecer melhor aquele que hoje as pesquisas indicam que deve governar o Estado a partir de janeiro de 2018. Resta saber se o palanque solitário dado a Merisio na noite de quinta-feira terá algum efeito nas urnas.