As urnas do último domingo revalidaram um título que Santa Catarina já havia conquistado quatro anos atrás: o de Estado mais antipetista do Brasil. Implícita na onda que carregou Jair Bolsonaro (PSL) ao maior endosso que um presidenciável ganhou dos catarinenses em primeiro turno, a aversão ao PT é uma construção sólida e consolidada eleição após eleição. Mudou o beneficiado desse sentimento.

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Em 2014, Aécio Neves (PSDB) recebeu 52,8% dos votos válidos em Santa Catarina, o maior percentual do país a favor do tucano. O eleitor do Estado foi o único do país que daria a vitória ao senador mineiro em primeiro turno. Na segunda votação, no mano a mano com a então presidente Dilma Rousseff (PT), novo recorde, 64,5%. Aquele resultado atestou um sentimento antipetista de grande parte do eleitorado catarinense que até então ficara camuflado a mero efeito colateral da tríplice aliança – o grande acordo partidário engendrado por Luiz Henrique da Silveira que uniu PMDB, PFL (depois PSD) e PSDB.

Nas eleições presidenciais anteriores, Lula e Dilma já haviam sido derrotados em Santa Catarina nos dois turnos pelos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, respectivamente. Este ano, no entanto, o presidenciável do PSDB deixou de ser o porta-voz desse sentimento. Nos últimos quatro anos, Bolsonaro construiu um vínculo com o Estado. A convite de deputados federais como Rogério Peninha (MDB) e João Rodrigues (PSD), visitou diversas vezes Santa Catarina para palestras e eventos. Soube captar o sentimento local e foi aqui que pela primeira vez apareceu liderando pesquisas eleitorais.

Sem forças para reagir à onda que deu 65% dos votos a Bolsonaro no primeiro turno, aos petistas catarinenses restou esperá-la passar e calcular os danos. Décio Lima ficou em quarto para governador, pior resultado do PT-SC desde os anos 1980. Ideli Salvatti e Lédio Rosa ficaram muito longe dos líderes na disputa pelo Senado. A bancada estadual perdeu uma cadeira – de cinco para quatro – e a federal virou um exército de um homem só: o reeleito Pedro Uczai.

As dificuldades do PT já eram previsíveis diante dos resultados das eleições municipais de 2016, quando partido foi varrido nas grandes cidades. A maior prefeitura sob comando do partido é Imbituba, o partido não têm sequer um vereador em Joinville. Décio armou-se para a reconstrução do partido no Estado com o otimismo que lhe é peculiar e a expectativa de que os dois anos amargos do governo Michel Temer (MDB) recuperassem parte da popularidade da sigla. As urnas mostraram que não.

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Os resultados fizeram do PT um partido da região Oeste – vem de lá os cinco parlamentares eleitos. Em meio à terra quase arrasada, o partido ainda luta contra a sorte. Ana Paula Lima (PT), deputada estadual e mulher de Décio, tentou uma vaga na Câmara e fez 76,3 mil votos. Faltou um, repito, apenas um voto nela ou em qualquer candidato do PT, para que fosse eleita. O partido agora vai brigar para validar os 491 votos de Ivana Laís, indeferida pela Justiça Eleitoral e ganhar a cadeira que hoje é de Ricardo Guidi (PSD). Seria um prêmio de consolação.