Na segunda metade dos anos 1990, durante o governo de Paulo Afonso Vieira (MDB) foi criada a expressão República dos Fiscais. Remetia ao empoderamento dos funcionários de carreira da Fazenda – como o próprio ex-governador – que tomara conta do núcleo decisório da administração. Com o tempo, passariam a ser chamados de palacianos. Passados mais de 20 anos, o governador eleito Carlos Moisés da Silva (PSL) dá sinais de que pode também alçar uma categoria ao centro do poder estadual e criar a República dos Coronéis.
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O próprio Moisés é coronel da reserva do Corpo de Bombeiros e teve em sua campanha forte apoio dos oficiais – também da Polícia Militar. Na entrevista que concedeu aos jornais da NSC Comunicação logo depois do segundo turno, confirmou que colegas de farda fariam parte da equipe de transição. Nos primeiros movimentos, tem estado mais próximo de oficiais do que do grupo político do PSL que o acompanhou na campanha – o que tem gerado certa apreensão.
O mesmo prestígio à farda foi dado na questão legislativa. Após reunião com os seis deputados estaduais eleitos pelo PSL, Moisés indicou que o cargo de líder do governo na Assembleia Legislativa ficará com o coronel aposentado Onir Mocellin, ex-comandante-geral dos Bombeiros e amigo de longa data do governador eleito. Essa longa relação de confiança foi a justificativa. A decisão frustrou expectativas de que o deputado estadual eleito Ricardo Alba, o mais votado do Estado, pudesse ficar com a vaga de líder por já ter alguma experiência parlamentar – é vereador de primeiro mandato em Blumenau.
Caberá a Mocellin ser o nome do PSL nas discussões sobre a presidência da Assembleia e a formação da mesa diretora da Casa. Nos bastidores, avalia-se nele certa resistência a uma composição política com o deputado estadual eleito Júlio Garcia (PSD) e o que se chama de “velha política”. É coisa para se conferir nos próximos meses. Certo é que Moisés definiu que a presidência da Casa deve ficar com algum partido que se alie ao projeto – senha para um acerto com o MDB.
Aos aliados do PSL, cada vez menos ouvidos, Moisés disse que faria uma imersão no governo para entendê-lo e que depois os chamaria. Diz que vai usar a estrutura “que está sendo paga” para isso – ou seja, quem está no governo de Eduardo Pinho Moreira (MDB). A relação entre ambos parece cada vez mais próxima.
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Os primeiros movimentos de Moisés e desta nascente República dos Coronéis trazem marcas que devem ser observadas pelo governador eleito. A centralização dos atos e certa dificuldade de comunicação – próprias das corporações que estão ganhando espaço – e poder excessivo a um grupo específico de servidores são características que talvez não seja prudente levar para a administração que nasce em janeiro. Ambas foram marcas também daquela outra república que citei no começo do texto.
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