Talvez o maior desafio do governador Carlos Moisés (PSL) na articulação para evitar o afastamento no processo de impeachment aberto na Assembleia Legislativa seja um exercício de reconquista. Até o início do ano, a bancada do MDB, maior do parlamento estadual com nove integrantes, apoiava o governo. Agora, mantém-se arredia às investidas do Centro Administrativo para entregar os votos que podem garantir a continuidade do mandato do pesselista.

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Desde o início, a relação entre Moisés e o MDB é de altos e baixos, de reviravoltas. Ele teve começo ainda no segundo turno das eleições de 2018, quando a surpreendente votação do comandante do PSL tirou do segundo turno o emedebista Mauro Mariani. Naquele momento, diversas lideranças do MDB começaram a anunciar que apoiariam a novidade contra Gelson Merisio (ex-PSD, hoje PSDB), que construir sua candidatura hostilizando os emedebistas. O movimento foi brecado porque não interessa ao discurso da chamada “nova política” ser associado ao tradicionalíssimo MDB.

Eleito Moisés com impressionantes 71% dos votos, houve uma aproximação natural causada pela transição de mandato com o ex-governador Eduardo Pinho Moreira (MDB), que abriu o Centro Administrativo aos aliados de Moisés – a maior parte, na época, colegas de farda do coronel bombeiro da reserva. Dessa aproximação, a maior herança foi a manutenção de Paulo Eli e Leandro Lima nas secretarias da Fazenda e da Administração Prisional.

Essa aproximação continuou no primeiro ano de mandato justamente na relação com a bancada estadual. Com os emedebistas e mais alguns deputados reunidos em um bloquinho, Moisés passou a contar com apoio de cerca de metade dos 40 deputados. Assim, viveu dias mais ou menos tranquilos no primeiro ano de gestão. O líder do MDB na Alesc, Luiz Fernando Vampiro, era também uma espécie de líder informal do governo.

Essa relação atingiu o auge no início de 2020, quando o próprio Vampiro foi convidado a exercer a liderança do governo de forma oficial. Na época, o atrelamento formal do MDB à gestão Moisés foi torpedeado e vetado pelos caciques do partido – os ex-governadores Pinho Moreira e Paulo Afonso à frente. Parecia um sinal, porque não demorou muito para a relação do governo com a bancada emedebista desmoronar diante da volúpia mostrada pelo PSL na sua estratégia de crescimento nos municípios para as eleições de deste ano.

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A esse avanço sobre lideranças nas bases, somou-se a constatação na bancada de que o Centro Administrativo recebia o apoio com graça, mas era pouco generoso na retribuição. Os parlamentares do MDB se sentiram desprestigiados em relação a outros aliados e mandaram sinais de descontentamento, não ouvidos, que resultaram no afastamento – já praticamente consumado quando teve início o combate à pandemia do coronavírus no Estado, em março, que serviu para afastar ainda mais os emedebistas do Centro Administrativo

A situação atual, em que o governador Moisés e seus emissários – incluindo Paulo Eli e Leandro Lima – tentam se reaproximar do MDB para evitar o impeachment e reconstruir a base aliada pode ser resumida na pergunta retórica e irônica de uma parlamentar emedebista:

– Quer dizer que agora não somos leprosos?

Ciente do peso de ter uma bancada de nove integrantes em um parlamento fragmentado em 12 partidos, o MDB definiu que vai tratar em bloco a questão do impeachment de Moisés e da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido). Ou seja, a decisão da maioria será seguida por todos.

Ironicamente, em mais uma reviravolta, quem agora defende que o partido proteja Moisés são os caciques – Pinho Moreira e Paulo Afonso à frente. Entendem que o partido tem mais a perder do que a ganhar aderindo a um impeachment tramado para resultar em eleição indireta. Interessado em disputar a sucessão de Moisés em 2022, o senador Dário Berger também não vê com bons olhos o processo aberto na Alesc. Todos esses caciques já foram procurados por Moisés, que deixou clara a disposição de marcar um novo momento na gestão, com maior contribuição dos possíveis aliados.

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De todas essas conversas, uma coisa fica clara: se o governo Moisés sobreviver ao processo de impeachment e isso acontecer com a ajuda dos emedebistas, a chamada “nova política” como foi apresentada em janeiro de 2019 terá sido uma passagem breve e pouco inspiradora da política catarinense.

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