Durante todo o segundo turno, o maior e mais relevante questionamento ao governador eleito Carlos Moisés da Silva (PSL) era se teria conhecimento suficiente da máquina e equipe para administrar o Estado. O coronel da reserva prometia eliminar funções políticas para privilegiar servidores de carreira. Passados 10 dias da vitória, Moisés apresentou um time de transição que indica essa disposição.
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Veja os nomes da equipe de transição
Vou me ater aqui à minha maior curiosidade em relação ao governo do comandante. 29 de outubro, dia seguinte à vitória, perguntei a Moisés se ele já tinha seu Paulo Guedes – referência ao economista que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) apresentou como futuro ministro ainda antes da campanha eleitoral. O catarinense não tinha.
Nesta quarta-feira, a relação dos indicados para formar a equipe de transição trazia o nome de Wanderlei Pereira da Neves, atual diretor da Dívida Pública na Secretaria da Fazenda. Se essa escolha for um indicativo de que ele pode ser o novo secretário, Moisés premiará um dos mais elogiados integrantes do quadro de carreira da pasta.
O volume da dívida pública é um dos maiores desafios que o governo Moisés terá de enfrentar e poucos conhecem tão bem esse quadro quanto Wanderlei. Foi ele quem levantou a tese de que a União cobrava juros sobre juros na correção da dívida com os Estados – o que tornara a débito quase impagável ao longo dos anos. Foi essa tese que permitiu ao Estado judicializar a questão e forçar o governo federal a renegociar a dívida, dando fôlego de quase dois anos aos cofres do Estado. A chamada Tese de Santa Catarina fez com que o Supremo Tribunal Federal, em vez de julgar a causa, desse um prazo para União e Estados chegarem a um acordo.
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Wanderlei atuou sob diversos secretários, especialmente no governo de Raimundo Colombo (PSD). É elogiado por todos – Antonio Gavazzoni (PSD era um dos que incensava o diretor. Ao mesmo tempo, é admirado em setores que rejeitavam a condução de Gavazzoni na Fazenda. Seu nome foi sugerido por técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), sinalizando melhora das relações entre a Fazenda e o órgão – tensas nos anos Colombo.
Se Wanderlei for mesmo o Paulo Guedes de Moisés e se tornar secretário, vai ser interessante perceber como funciona a pasta com uma condução técnica ou se vai faltar a ele o traquejo político que tanto se exige de quem tem a chave do cofre. Como diretor da dívida, ele deu aval aos financiamentos contraídos por Colombo. Sabia, no entanto, até onde a decisão era técnica ou política.
Era o caso do financiamento de R$ 1,5 bilhão junto ao Banco do Brasil e ao BNDES para obras e uma nova edição do Fundo de Desenvolvimento dos Municípios. Ao conversar com ele sobre como esse novo financiamento seria assimilado nas contas do Estado, saí com a clara impressão de que Wanderlei estava contrariado por uma decisão política. Se passar de homem da Fazenda na transição para secretário da pasta, terá a missão de fazer funcionar o governo dos não-políticos.