Amandio João da Silva Junior foi uma surpresa quando recrutado pelo governador Carlos Moisés (PSL) para substituir Douglas Borba no comando da Casa Civil, que pediu exoneração a reboque da operação policial que investiga a atrapalhada e suspeita compra de respiradores da Veigamed. Um mês e meio depois ele volta a ser surpresa, desta vez com uma exoneração três dias depois de ser convocado a depor na CPI que investiga o mesmo caso.
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Na época, se esperava uma solução dentro do mundo da política para um governo que havia perdido toda sua articulação com o parlamento e entidades do setor produtivo – cujos sinais de deterioração vinham de antes da pandemia ou da frustrada compra com pagamento antecipado de 200 respiradores por UTI por R$ 33 milhões de uma empresa que não demonstrava qualquer capacidade de que conseguiria entregá-los.
De passagem breve pelo cargo de adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Amandio retornava ao governo com a missão de arejá-lo. Na primeira terça-feira, estava na Assembleia Legislativa tentando reabrir o diálogo com os deputados, botou prefeitos na linha direta com o governo, aproximou os empresários do Centro Administrativo. Tinha muito trabalho pela frente e muitos duvidavam que a disposição ao diálogo, por si, fosse suficiente para desencastelar o governo Moisés. Mas trabalhava.
A queda de Amandio começou na última terça-feira, quando durante o depoimento do empresário Samuel Rodovalho na CPI dos Respiradores foi exposta uma captura de tela que faz parte do inquérito da Operação O2 e que registrava uma conversa de ambos – antes da volta de Amandio no governo. Samuel se disse amigo do secretário e revelou, de forma confusa, que projetavam algum negócio envolvendo testagem rápida para Covid-19. Um negócio privado que não avançou, alheio ao governo Moisés. Os deputados não ficaram satisfeitos com a resposta, quiseram mais detalhes sobre a amizade e os negócios. Aprovaram a convocação de Amandio.
No dia seguinte, quarta-feira, o secretário estava prestigiado na Casa d’Agronômica. Assessores consideravam que Amandio, bom de conversa e trato, sairia mais forte do depoimento na CPI. Carlos Moisés, na entrevista que concedeu a mim e ao colega Raphael Faraco, elogiou a forma como o secretário estava conduzindo uma pasta política mesmo sem ser político. Uma convicção que durou dois dias.
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O que fez a moral de Amandio cair em tão pouco tempo pode estar nas entrelinhas da nota oficial sobre sua demissão, assinada por Moisés: “o ex-secretário pode melhor prestar seus esclarecimentos pessoais perante as autoridades constituídas em relação aos fatos relacionados à sua atividade profissional desenvolvida na iniciativa privada”. Esclarecimentos pessoais, atividade profissional, iniciativa privada – redundâncias que explicitam algum problema que o governo não quer trazer para seu colo.
A nova queda na Casa Civil abre espaço para que Moisés renove o olhar para o perfil que busca na pasta mais política do governo que teme aquilo que chama de “velha política”, mas ainda não conseguiu deixar claro o que é a tal “nova política”. Talvez seja a hora de chamar os profissionais.
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