O indefinido futuro político brasileiro perdeu nesta quarta-feira uma de suas principais interrogações. A condenação unânime no Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre, colocará o ex-presidente Lula (PT) no rol dos inelegíveis pelas regras da Lei Ficha Limpa. Isso não significa que esteja enterrada sua candidatura presidencial, mas que a estratégia do PT daqui para frente deve levar em conta perdas e ganhos políticos gerados pelo lançamento de uma chapa que não chega até fim da disputa ou mesmo toma posse em caso de vitória nas urnas.
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A decisão uniforme dos três desembargadores do TRF-4 diminui a margem de manobra de Lula e do PT para as eleições de 2018. Além de reduzir a possibilidade de recursos, o órgão colegiado ampliou de 9 anos e seis meses para 12 anos e um mês a sentença do juiz Sérgio Moro — caracterizado nos últimos meses como perseguidor do ex-presidente e que agora terá essa alcunha compartilhada com João Pedro Gebran, Leandro Paulsen e Victor Laus, do tribunal sediado na capital gaúcha. Ficou evidente que a estratégia de confrontar o Judiciário serviu para mobilizar a própria militância, mas teve efeito inócuo no campo jurídico.
Agora, o PT terá que decidir se disputa a eleição de 2018 para ganhar ou para deslegitimar o processo eleitoral. Nada impede o partido de registrar a candidatura de Lula a presidente e nem de apresentá-lo como tal no horário eleitoral até que o Tribunal Superior Eleitoral analise esse registro. Com a campanha oficial reduzida a 45 dias — 35 de televisão — é possível manter Lula como candidato em boa parte da jornada, substituindo-o depois ou arrastando o processo até o Supremo.
Hoje, as pesquisas indicam que Lula tem entre 34% e 37% dos votos e que venceria os adversários no segundo turno. Manter o líder petista na disputa pode criar um fato político maior que a vitória ou a derrota: tornar nulo os votos de um terço do eleitorado nacional. O presidente eleito nesse cenário teria que conviver com o fantasma desse enfrentamento não-realizado e o PT poderia continuar usando o discurso do golpe pelos próximos quatro anos. Eleição sem Lula é fraude, dizem os militantes petistas ou parapetistas. Da mesma forma, é possível dizer que eleição com Lula condenado em segunda instância também é uma forma de melar o processo eleitoral.
Se optar por disputar a eleição e o poder efetivo, o PT pode partir para um plano B. O ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, o ex-governador baiano Jacques Wagner, apoiar o pedetista Ciro Gomes, são exemplos. Nesse caso, Lula mantém-se como um cabo eleitoral de peso, mesmo condenado. A decisão do TRF-4 eliminou uma das interrogações da eleição de outubro, mas restam muitas pelo caminho.
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