Não existe vácuo na política – diz um dos bordões mais conhecidos no meio. Em Santa Catarina há um espaço político praticamente vazio à espera de ser preenchido desde 2011, mas que agora tem tudo para ser alvo de especial cobiça: o DEM. Depois de passar à míngua os anos petistas e sofrer com a diáspora pessedista, o partido voltou ao palco com Temer e deve ter protagonismo político na era Bolsonaro. É uma das maiores reviravoltas da vida partidária brasileira e isso deve ter eco no Estado.

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O esvaziamento do DEM catarinense é digno de estudo acadêmico. O partido saiu das urnas em 2010 com uma de suas maiores vitórias no Estado. Elegeu o governador Raimundo Colombo, três deputados federais e sete estaduais – na contramão nacional, onde o partido sofrera mais uma derrota para o PT como coadjuvante do PSDB.

Foi aqui no Estado, em Joinville, que o então presidente Lula (PT) disse em um comício que era preciso extirpar o DEM. Era setembro de 2010, vésperas da eleição. Um ano depois, o DEM foi praticamente extirpado em Santa Catarina com a decisão de Colombo de migrar com toda a tropa demista para o PSD de Gilberto Kassab. Todos os eleitos de 2010 e mais de 50 prefeitos toparam a empreitada. De terceiro maior partido do Estado, o DEM passou a contar, do dia para a noite, com dois prefeitos e um punhado de vereadores.

O partido não conseguiu se recuperar nas duas eleições estaduais seguintes. Em 2014, atrelou-se ao projeto do deputado estadual Narcizo Parisotto, da Igreja Quadrangular – que se elegeu e acabou deixando o partido. Este ano, foi assumido pelo deputado federal João Paulo Kleinübing, quando este tentava viabilizar um projeto majoritário descolado de Gelson Merisio (PSD). Acabou acabou candidato a vice na chapa do pessedista. Aliás, é curioso como nas duas eleições estaduais após saída dos ex-demistas, o DEM acabou aliado ao algoz PSD.

Agora, no entanto, o partido é olhado com cobiça. A vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela Presidência da República colocou Onyx Lorenzoni (DEM-RS) no coração político do novo governo – o gaúcho, aliás, em 2011 chamou de traidores os que deixaram o partido para ficar mais perto do Planalto petista. O DEM deve estar na nova base aliada e garantiu boas fatias dos fundos partidário e eleitoral com a eleição de 29 deputados federais.

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Esse patrimônio está nas mãos de Kleinübing, sem mandato a partir de fevereiro. O partido é visto como uma opção ao deputado estadual eleito Júlio Garcia e todo pessedista que queira desatrelar-se de Gelson Merisio. Também seria um porto natural para os eleitos do PSB de Paulo Bornhausen, desconfortáveis no partido nominalmente socialista. Uma migração em massa dos prefeitos e deputados eleitos do partido precisaria ser costurada com os caciques nacionais do PSB, mas não é impossível.

Essas questões devem ganhar maior fôlego a partir de fevereiro, quando o novo Congresso toma posse e fusões partidárias devem abrir uma janela informal de recomposição política. Certo é uma coisa: no vácuo, o DEM catarinense não deve continuar.