No mundo inteiro os governos estão recorrendo ao tesouro para minimizar os danos econômicos inevitáveis diante das restrições tomadas para impedir o avanço do novo coronavírus. Aqui no Brasil, estamos presos a uma falsa polarização de narrativas que oporia aqueles que preferem mortos aos que preferem falências.

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O vetor desse confronto, por incrível que pareça, mora no Palácio do Planalto. A peça publicitária que o governo Jair Bolsonaro patrocina a partir desta sexta-feira com o mote de que “o Brasil não pode parar” é o novo movimento dessa narrativa, somando-se ao histórico e inadequado pronunciamento que fez em cadeia de rádio e televisão na última terça-feira. Em vez de construir uma solução com os governadores e prefeitos, o presidente abraça uma pregação que beira à desobediência civil.

A peça publicitária se contrapõe às determinações de isolamento social adotadas em diversos Estados, entre eles Santa Catarina, e mais uma vez traz a confusão do duplo comando onde deveria existir comunhão de esforços. Além disso, coloca em saia justa o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), que deverá recorrer a novas piruetas verbais para negar que suas orientações em favor do isolamento estejam sendo contrariadas dia sim, dia sim, por seu chefe. A quem o cidadão deve ouvir neste momento? A quem interessa transformar este momento que vivemos em um confronto entre os que temem a doença e os que temem a crise? Não há dicotomia – teremos que enfrentar ambos os problemas como nação.

Ao mesmo tempo, no governo catarinense, Carlos Moisés (PSL) vai deixando a posição de ferrenho defensor do isolamento total e antecipa um afrouxamento das restrições a partir de quarta-feira. Atende à pressão externa de empresários, mas também a pressão interna de quem vê a queda de arrecadação ameaçando as contas do Estado – folha de pagamento à frente.

Assim, em uma guinada que o aproxima dos “desenvolvimentistas sanitários” do Planalto, Moisés criará uma inusitada situação em Santa Catarina. Estará proibido ir à praia, mas não ao shopping. Se você quiser manter os exercícios físicos em dia, não pode ir ao parque, mas sim à academia. Há restrições na liberação, diz o governo – praticamente infiscalizáveis, no entanto. Percebe-se, assim, que praias e parques não têm lobistas. Quem tem, organiza carreatas “espontâneas” para comemorar a reabertura do comércio.

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