O ex-presidente Michel Temer está preso preventivamente sob a acusação de liderar uma organização criminosa que teria desviado R$ 1,8 bilhão em dinheiro público em 40 anos de atuação. O impacto dessas poucas palavras deixa claro o peso da ação realizada ontem nessa nova etapa da Operação Lava-Jato, em sua corrente Rio de Janeiro – liderada pelo juiz Marcelo Brettas.

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A operação que há quatro anos expõe as entranhas da política brasileira mostrou força uma semana depois de sofrer um duro golpe no Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu por 6 votos a 5 que os crimes de corrupção ligados a financiamento de campanhas deveriam ser julgados pela pouco aparelhada Justiça Eleitoral. Não deve ser coincidência essa demonstração tão pronta de vitalidade, quase um revide.

Diversas leituras serão feitas à esquerda e à direita, sobre o que levou à prisão de Temer no atual contexto. Certo é que a Lava-Jato mostra que ter vida e agenda próprias e que não se deixará capturar pelo ambiente político. O ex-presidente não é o primeiro político que se beneficiou da onda – inicialmente antipetista e depois antipolítica – que acabou vítima dela. Eduardo Cunha pode dar umas dicas ao colega de partido.

Nesse contexto, é interessante observar que a prisão de Temer pode ser a pá de cal nas tentativas do MDB de se reerguer após os reveses eleitorais do ano passado. Se diversas lideranças já temiam a continuidade do desgaste do partido nas eleições municipais do ano que vem, esse sentimento tem tudo para ganhar força e impulsionar desfiliações.

O ex-presidente Lula está preso desde abril do ano passado. O PT perdeu espaço e tamanho nas eleições, mas essa prisão uniu o partido e parte da esquerda em torno de uma suposta perseguição. Lula, com suas qualidades e defeitos, é um líder político. Temer, um burocrata de partido que chegou ao Planalto em um orquestrado acidente. Ninguém clamará por ele.

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