É bom que o governador Carlos Moisés (PSL) tenha aproveitado bem os 14 dias de férias, encerrados na segunda-feira, porque 2020 tem tudo para ser um ano mais complicado que do que foi seu primeiro de mandato. Mesmo no costumeiramente pacato mês de janeiro, o pesselista retoma o comando do Estado em uma situação bem diferente do que deixou ao passar o cargo interinamente para a vice Daniela Reinehr (PSL) no último dia 6.
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A senha de que a trégua dada pela política a Carlos Moisés após a acachapante vitória de 2018 seria encerrada este ano veio ainda em dezembro, quando o presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD), avaliando 2019, disse que “o governo teve uma carência e uma compreensão um pouco maior do que os demais governos, por se tratar de um governo novo e que, a gente percebe, ainda está aprendendo”.
Acabou a carência. O governo Moisés enfrentará este ano uma oposição com cara e com discurso – coisa que em 2019 ficou praticamente limitada a alguns confrontos com o setor produtivo na revisão dos incentivos fiscais, encampada por deputados como Milton Hobus (PSD), e pelas caneladas com os inimigos íntimos no seio bolsonarista. Agora, surgem vozes dispostas a fazer a crítica pontual e diária da gestão pesselista.
Isso ficou claro com a repercussão dada ao pedido de impeachment apresentado pelo defensor público Ralf Zimmer tão logo Moisés saiu de férias. Parlamentares como Ana Campagnolo (ainda PSL), Kennedy Nunes (de saída do PSD) e Ivan Naatz (quase no PL) comentaram, com maior o menor endosso, a denúncia de que Moisés teria praticado crime de responsabilidade na concessão de equiparação salarial dos procuradores do Estado em relação aos da Alesc.
A própria tramitação do caso no parlamento mostra uma disposição diferente de outras épocas. Quando pipocavam pedidos de impeachment contra o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) – a maioria movidos por sindicalistas – por causa da operação financeira conhecida como “pedaladas da Celesc”, que movimentaram cerca de R$ 1 bilhão em um ano e meio, todos os pedidos ganharam sumariamente o arquivo. Em todos foram encontrados erros formais – em um deles, segundo a Procuradoria da Alesc, o denunciante não havia “comprovado a condição de cidadão”.
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Desta vez, o pedido de Ralf Zimmer foi celeremente analisado pela Procuradoria ainda durante o recesso e já encaminhado à Casa Civil para as explicações formais de Moisés. Escrevi aqui neste espaço, dias atrás, que não há clima político para um impeachment em Santa Catarina. Ainda não há, mas criação desse clima exige uma oposição disposta ao enfrentamento e que estejam desligados alguns sistemas de proteção política – o que parece estar acontecendo. Prepare-se, Moisés. Começou 2020 e ele só termina em 2022.