À parte a disputa judicial e as interpretações regimentais, cabe dizer que foi mesquinho negar uma cadeira na comissão especial da Assembleia Legislativa que vai analisar o impeachment do governador Carlos Moisés (PSL), da vice Daniela Reinehr (sem partido) e do secretário Jorge Tasca à líder do governo, deputada estadual Paulinha. Líder do bloco, Milton Hobus (PSD) ignorou a posição de quatro dos dez membros para indicar Marcos Vieira (PSDB).
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Esse voto não fará diferença para a cada vez mais provável deposição do governo Moisés, mas deixa no ar um cheiro de golpe que não está “à altura da tradição da política de Santa Catarina”, parafraseando o presidente Júlio Garcia (PSD) na entrevista que me concedeu recentemente.
Isto posto, é interessante perceber como a semana que passou deu a sensação de que o jogo do impeachment está jogado na Assembleia. Não por causa dessa tacanha manobra para excluir Paulinha da comissão especial. Isso garantiria, apenas um voto divergente derrotado pela maioria oposicionista, que talvez até ajudasse a dar maior legitimidade e aspecto democrático ao processo. A sensação também não vem, apenas, do fato de que somente cinco deputados votaram contra a composição da comissão, na terça-feira. Esse é mais ou menos o tamanho da fidelidade a Moisés no parlamento.
O que deixa essa sensação de jogo jogado são os sinais de que a que a bancada do MDB, maior da Casa com nove integrantes, fechou questão pelo impeachment. É a impressão de que o governo Moisés aderiu a uma espécie de negacionismo político e evita ver diante de si o cadafalso. É perceber que articulação política para impedir a derrota – ou perder de pouco, já que são necessários 27 dos 40 votos para aprovar o afastamento de Moisés e Daniela dos cargos – começa a ser questionada no próprio Centro Administrativo.
A semana terminou com a sensação de que as esperanças de Moisés para continuar governador vêm de duas frentes: líderes políticos que não querem Júlio Garcia no governo por planejamento eleitoral; uma possível denúncia do Ministério Público Federal contra o pessedista no âmbito da Operação Alcatraz. Ou seja, nada que esteja nas mãos do governador.
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Frase da semana
“Não foi o espírito democrático que sempre prevaleceu na Assembleia Legislativa que prevaleceu. Prevaleceu o regimento”
Vicente Caropreso, deputado estadual do PSDB, questionando a indicação do colega Marcos Vieira (PSDB) para a comissão especial do impeachment em vez de Paulinha (PDT).
Trocadilhos visuais

Durante a semana, o governador Carlos Moisés fez uma vistoria nas obras de revitalização da SC-401, em Florianópolis. Pelo registro fotográfico, alguém pode dizer que ele estava conferindo o tamanho do buraco ou procurando a luz no fim do túnel.
A volta de Sopelsa

Com 73 anos de idade, sendo 22 deles como deputado estadual, Moacir Sopelsa (MDB) esteve quarentenado em Concórdia até quinta-feira, quando retornou ao plenário com a missão de presidir a instalação da comissão especial que vai analisar o pedido de impeachment contra Carlos Moisés, Daniela Reinehr e Jorge Tasca. A função cabe ao mais longevo parlamentar em idade e mandatos. Na volta, o primeiro cumprimento foi para o colega Nazareno Martins (PSB).
Os Amin
Opositor do governo Carlos Moisés desde o primeiro dia, o deputado estadual João Amin (PP) tem um desafio extra como presidente da comissão especial do impeachment. Seu posicionamento será lido como o do clã Amin. O senador Esperidião Amin tem dado conselhos ao governador, enquanto a deputada federal Angela Amin avalia que o caso dos respiradores fantasmas é indesculpável, mas que não embarcaria no impeachment pela equiparação salarial dos procuradores.
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Conexão Florianópolis-Joinville
Por falar em Amins, está nas mãos de Esperidião uma articulação eleitoral que nem Luiz Henrique da Silveira conseguiu fazer: cruzar as alianças de Florianópolis e Joinville. O PP quer o MDB apoiando Angela em Florianópolis, enquanto os emedebistas joinvilenses querem os progressistas apoiando Fernando Krelling (MDB). Na Capital, José Carlos Rauen (MDB) é pré-candidato, assim como Francesc Boehm (PP) em Joinville. Em 2016, o PSDB queria apoio do PP para Marco Tebaldi em Joinville em troca do endosso a Angela em Florianópolis. Sem acerto, os tucanos ficaram com Gean Loureiro, eleito com 1.153 votos de vantagem.
Concisas
– O telefone vermelho que Laércio Schuster (PSB) colocou no plenário parece funcionar: ele se aproximou tanto do governo Moisés que entrou nas especulações para Secretaria da Casa Civil.
– Segundo suplente da coligação MDB/PL em 2018, Jorge Goetten vai assumir por quatro meses a vaga do deputado federal Rogério Peninha (MDB). A data da posse ainda está em aberto, mas será breve.
– Marcius Machado (PL) votou contra a composição da comissão do impeachment porque esperava ser indicado.
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