Em uma época em que se busca tanto um nome que represente o centro na disputa política, o nome de Guilherme Afif Domingos (PSD) talvez devesse ser considerado. Afinal, dificilmente vai se encontrar outra pessoa que conseguiu ser, ao mesmo mesmo tempo, ministro da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo. Brincadeiras à parte, o pessedista esteve em Florianópolis na última sexta-feira em uma agenda do Sebrae, que presidente nacionalmente, e daqui saiu animado com as perspectivas de uma nova candidatura presidencial.

Continua depois da publicidade

Em 1989, Afif Domingos tentou apresentar-se com um discurso liberal à direita, um Collor à paulista, digamos. Chegou a empolgar setores da sociedade, depois estagnou. Terminou em sexto lugar, com 4,8% dos votos – pouco à frente de Ulysses Guimarães (PMDB). Teve votação acima da média em Santa Catarina, 8,4%, mas também ficou em sexto lugar no Estado. Após a agenda do Sebrae, Afif almoçou com pessedistas locais em uma restaurante no Centro de Florianópolis.

O presidenciável saiu tão otimista do encontro, que o almoço virou nota na Folha de S. Paulo de ontem. A coluna Painel informou que Afif conversou com a cúpula do PSD catarinense e que saiu contente ao saber que não há muito entusiasmo no partido em relação a apoiar Geraldo Alckmin – seu ex-colega de chapa – na eleição presidencial. Teria sido, ainda, estimulado a manter sua pré-candidatura.

Afif deu sorte na composição da mesa. A figura de maior peso político era o deputado estadual Gelson Merisio, presidente do PSD-SC e pré-candidato da sigla ao governo. Há tempos que ele expressa nenhuma empolgação pelo apoio a Alckmin e dá sinais de que nem faz questão de ter o tucanos catarinenses em seu palanque.

Além dele, estavam na mesa o ex-deputado Pedro Bittencourt, o chefe de gabinete Américo do Nascimento, o ex-secretário Celso Calcagnotto e o superintendente do Sebrae/SC, Carlos Guilherme Ziguelli. O ex-governador Raimundo Colombo (PSD) foi convidado, mas estava em Curitibanos. Se ele estivesse presente, talvez Afif não tivesse saído tão empolgado – embora Colombo seja mestre em concordar com seus interlocutores.

Continua depois da publicidade

É difícil imaginar que o pragmático e metamórfico PSD de Gilberto Kassab vá apostar na candidatura presidencial de Afif Domingos, especialmente depois de abrir mão do ex-ministro Henrique Meirelles, entregue de mão beijada ao MDB. Os pessedistas priorizam claramente a eleição de deputados federais – que garantem a força da sigla em fundo partidário e minutos eleitorais – e a composição paulista, onde pleiteiam a vaga de vice na chapa de João Dória (PSDB) ao governo. O apoio a Alckmin deve vir a reboque.

No cenário catarinense, seria bom para Merisio um presidenciável do PSD – especialmente um que não empolgue. Ele não se comprometer de antemão com os ponteiros da disputa presidencial, postergando ao segundo turno essa escolha e abrindo alas para o amplo palanque que pode receber de Ciro Gomes (PDT) a Jair Bolsonaro (PSL).

Leia outros textos de Upiara Boschi