Restaurar a Ponte Hercílio Luz e devolvê-la em plenas condições de uso aos catarinenses é um desafio tão grande quanto foi fazê-la deixar de ser sonho para virar realidade nos 1920. Essa é a dimensão do que estamos vivendo, às vésperas do fim de um histórico de erros, omissões e indícios de corrupção que mantiveram a estrutura apartada de sua função e de sua gente nas últimas décadas.
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Quando o governador Hercílio Luz decidiu construir a Ponte Independência, ao retomar o comando do Estado em 1918, beirou a megalomania. Instalar na acanhada capital catarinense um equipamento que, nas Américas, só tinha similar em Nova York, nos Estados Unidos. A operação financeira comprometeu as finanças do Estado por décadas, mas mudou Santa Catarina de patamar diante do Brasil. Hercílio não viu sua ousadia de pé, morreu dois anos antes da conclusão das obras, em 1926.
Naquele ano, à moda de República Velha, Washington Luiz foi eleito presidente – recebeu 688 mil votos contra 1,1 mil do adversário num país que já contava com mais 30 milhões de habitantes. No período entre a eleição e posse, ele viajou o país e passou por Florianópolis. A ponte, ostentando o nome de seu idealizador, foi o cenário da recepção – sob o calor do meio-dia, com autoridades, populares e banda de música.
O presidente ficou tão impressionado que escolheu aqui seu ministro de Viação e Obras Públicas, Victor Konder – tio de Jorge Bornhausen, governador quando foi feita a primeira interdição da ponte, em 1982. É incrível como a ponte parece estar sempre pronta para apresentar essas coincidências, repetições. A ousadia de Hercílio Luz nos anos 1920 só encontrou eco em 2014, com um afiliado de Bornhausen no poder: Raimundo Colombo (PSD).
Mais importante até do que o rompimento do contrato com o Consórcio Florianópolis Monumento – visivelmente incapaz de uma tarefa de tamanha dimensão – foi o lageano ver na restauração a mais viável das opções disponíveis para a mobilidade em Florianópolis e dar verdadeira prioridade à obra. É por isso que estamos concluindo um processo único no mundo: 60% das peças trocadas, entre elas as de sustentação, com a ponte amparada por uma base provisória. Mais uma vez, beiramos à megalomania. Ressalte-se o mérito do governador Carlos Moisés (PSL) de resistir ao senso comum que vê a ponte como vilã e colocar empenho total na conclusão.
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O desafio agora é evitar que a história de megalomanias mal-planejadas, omissões e incompetências se repita no futuro. Que fique apenas o orgulho por uma obra histórica e incomparável.
Publicado nas edições de DC Revista, AN Revista e Santa Revista de 28/12/2019
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