Não é por acaso que a saída ou não de Douglas Borba da Casa Civil do governo Carlos Moisés (PSL) gera tanta expectativa no mundo político catarinense. Antes de estar no centro das investigações sobre o suposto esquema de fraudes na compra de respiradores investigada por Ministério Público de Santa Catarina, Polícia Civil e Tribunal de Contas do Estado, o secretário chamava atenção por acumular poder demais.

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Vereador em Biguaçu, Borba ganhou espaço no coração do governo catarinense de modo meteórico. Em 2018, tornou-se o principal assessor político do então candidato Comandante Moisés naquela campanha em que ser “o único candidato do Bolsonaro”, o apelo por uma “nova política” e à ideia de que “não existe meia mudança” eram os únicos trunfos para uma disputa improvável que resultou numa votação histórica – 71% dos votos segundo turno. Ali, Borba ganhou a confiança do comandante, que se despiu do título ao assumir o governo do Estado – indicando o assessor para a Casa Civil.

No cargo, Borba virou uma espécie de primeiro-ministro. Seu olhar estava sobre todos os órgãos de governo como se fossem os olhos do governador. Cabia a ele a articulação política com Assembleia Legislativa e demais poderes. No primeiro ano, sem maiores sobressaltos, passou no teste. Entregou a Moisés uma base parlamentar composta por cerca de 20 dos 40 deputados, alicercada em um acordo com a bancada do MDB – sem que os emedebistas indicassem cargos, para surpresa de muitos.

Passar o primeiro teste deu mais poder a Borba. Com a saída de Jair Bolsonaro e sua tropa do PSL, coube a ele a missão de fazer o partido ficar “com a cara do governador” em Santa Catarina. Era janeiro deste ano, Moisés acabara de reabrir a Ponte Hercílio Luz, nenhum desafio parecia grande demais para o governo da nova política. Nesse clima, acumulando Casa Civil e a secretaria-geral do PSL-SC, Borba avançou sobre prefeitos, vereadores e lideranças de outros partido, inclusive da heterogênea base na Alesc, para montar o time pesselista para as eleições 2020.

Esse movimento gerou atritos e insatisfações. O MDB se afastou do Centro Administrativo – após quase assumir a liderança do governo em fevereiro. Derrotas pontuais no parlamento começavam a mostrar esse desarranjo quando veio a pandemia.

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O coronavírus mudou a vida de todos, inclusive a do governo. Com o governador e o então secretário de Saúde Helton Zeferino diariamente em comunicação direta com a sociedade para relatar os atos de governo para enfrentar a crise e apresentar os números de casos e mortes pelo Covid-19, Borba saiu dos holofotes, mas ampliou sua presença nos bastidores, na coordenação interna das ações de governo.

Essa mesma coordenação que está sob forte suspeita desde que a reportagem do The Intercept escancarou erros, amadorismos e indícios de corrupção na compra com pagamento antecipado de 200 respiradores para UTIs por R$ 33 milhões. Se Borba interferiu indevidamente para que fosse escolhida uma empresa sem histórico nesse tipo de negociação e por quais motivos, as investigação deverão mostrar. De qualquer forma, a presença de Borba como homem forte do governo Moisés não se sustenta mais.

Mesmo que comprove inocência, o secretário falhou em sua missão principal: dar suporte político ao governador. Hoje, uma Alesc amplamente oposicionista definirá o futuro de Moisés em uma CPI e em um provável processo de impeachment. A única chance do governador escapar é reformular completamente sua articulação política e sua relação com o parlamento – algo incompatível com a continuidade de Borba no governo. Dia desses, em crítica ao governo, o deputado estadual Paulo Eccel (PT) disse que Santa Catarina elegeu o Comandante Moisés – e que era hora, enfim, de que ele comandasse Santa Catarina. É a última chance e não há muito tempo para decidir.