Relatora da comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para acompanhar o enfrentamento da pandemia da Covid 19, a deputada federal catarinense Carmen Zanotto (Cidadania) não esconde o entusiasmo com a aprovação emergencial pela Anvisa das vacinas Coronavac/Butantan e Astrazeneca/FioCruz – anunciadas no domingo. A parlamentar acredita que a produção local das vacinas vai compensar nos próximos meses o atraso brasileiro em relação ao resto do mundo na vacinação.
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Medindo as palavras, ela evita os embates políticos sobre a pandemia e mostra confiança no plano nacional de vacinação desenvolvido pelo Ministério da Saúde com Estados e municípios. Elogia o trabalho da Secretaria de Saúde e diz acreditar que a vacina, tão logo seja repassada ao Estado, chegará rapidamente aos catarinenses.
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Na entrevista, Carmen Zanotto faz três alertas importantes: o Brasil vai precisar de todas as vacinas possíveis, além das já aprovadas pela Anvisa; os brasileiros vão precisar ter compreensão de aguardar a vacinação dos grupos prioritários; a vacinação deve avançar pelo segundo semestre de 2021.
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Leia a entrevista:
Muita gente acha que o Brasil está atrasado na questão da vacinação, muita gente acha que existe uma pressa motivada por questões políticas. A senhora como parlamentar muito ligada aos temas da saúde e também ex-gestora da área em níveis municipal e estadual pode dizer quem está certo?
Com relação ao mundo nós estamos atrasados. A gente tem mais de 50 países imunizando e nós ainda não iniciamos. Essa é a grande expectativa, o grande desejo daqueles que defendem o Sistema Único de Saúde e defendem vacinas com segurança e eficácia para a população. Mas agora está mais próximo, eu sou muito otimista para a imunização do país como um todo.
E porque estamos atrasados?
Porque as duas vacinas analisadas pela Anvisa não foram analisadas ainda por outras agências mundiais. O que nossa lei 14.006, de abril de 2020, definiu? Que se os insumos estratégicos para a pandemia estivessem autorizados por um conjunto de agências reconhecidas internacionalmente, no Brasil seriam reconhecidos em três dias. A Anvisa teve que fazer todo o processo com base na documentação entregue pela Fiocruz e pelo Butantan de vacinas ainda não reconhecidas no mundo. Como a gente não fez a adesão e a compra de vacinas da Pfizer, a primeira que ficou disponível, ficamos atrasados. Mas a partir do momento em que começarmos a vacinar, qual é a nossa vantagem? Nós temos dois grandes institutos fazendo todo o preparo, envase, rotulagem e distribuição. Teremos uma capacidade maior de doses de vacina no país.
Foi um erro não apostar na vacina da Pfizer ou essa vantagem da produção aqui no Brasil compensa?
A pandemia é uma situação tão complexa que nós precisamos de todas as vacinas possíveis, desde que tenham segurança e eficácia comprovada. É claro que se tivéssemos feito a aquisição da vacina da Pfizer ela já estaria sendo aplicada. Como isso não aconteceu por uma série de situações que o governo federal enfrentou, precisamos acreditar muito que teremos essa compensação desse período em que a gente não pôde imunizar no Brasil. A expectativa é muito grande a partir desses dois grandes institutos.
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A impressão que dá é que o governo federal tem mais carinho por remédios alternativos sem eficácia cientificamente comprovada do que pelas vacinas. A senhora tem essa impressão também?
A gente não pode politizar. O que aconteceu tanto com o tratamento precoce quanto com as vacinas? Começou uma politização. Nós estamos falando de salvar vidas. Toda politização ou uso político, independente de quem esteja fazendo, é muito ruim. Quem sofre é a população. Por isso a gente precisa de unidade. É como a questão que estamos vivendo no Amazonas, neste momento não adianta fazer o embate político, temos que buscar alternativas para poder salvar o maior número de vidas das pessoas que estão neste momento precisando de oxigênio, mas quem sofre de patologias e também os nossos recém-nascidos.
Existe uma projeção sobre quando a vacinação chega de fato à grande maioria dos brasileiros, em que momento do ano poderíamos ter a população vacina e mais próxima do velho normal?
A capacidade de produção e distribuição das vacinas é muito grande, tanto por parte do Butantan quanto da Fiocruz. Nós vamos ter a partir destes 8 milhões de doses, até junho ou julho poderemos ter 150 milhões de doses sendo distribuídas. São quantitativos expressivos para esse público-alvo prioritário. O que nós vamos precisar também é trabalhar para que as pessoas compreendam, e isso é essencial, que não vamos ter vacina para todos no mesmo momento. Por isso que o Ministério da Saúde, Estados e municípios definiram tecnicamente os grupos prioritários. Acima de 75 anos na população em geral, quem está nos asilos acima de 60 anos e as pessoas que lá trabalham, os trabalhadores da saúde e a população indígena. São as pessoas em maior risco neste primeiro momento. Precisamos reforçar que os filhos levem os pais nessa faixa etária às salas de vacina. A gente precisa compreender que quando não é nossa vez de vacinar não adianta brigar com a equipe de saúde.
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Vamos passar 2021 vacinando a população?
Ah, provavelmente sim. Não concluiremos isso no primeiro semestre para toda a população.
A senhora falou que precisamos da compreensão de quem quer ser vacinado, mas precisa esperar a vez. Mas também temos um contingente impressionantemente grande de pessoas que dizem que não querem ser vacinadas. Como convencê-las da importância da vacinação?
Quando uma pessoa for se vacinar não está protegendo só a si. Está ajudando a proteger os que estão próximos. Essa responsabilidade coletiva a gente vai ter administrar durante o processo da vacinação. Também não adianta dizer que as pessoas vão ser obrigadas a vacinar. Essa lógica também não vale porque não se tem vacina para todos e as pessoas têm que ir por compreenderem. Devagar, eu acredito que o número de pessoas que serão vacinadas vai aumentar a partir da oferta. Não tenha dúvida, tão logo a gente tenha a vacina as pessoas vão aderir.
A senhora teve uma reunião na sexta-feira com o secretário estadual de Saúde, André Motta Ribeiro. A vacinação estava na pauta?
Nós conversamos com o doutor André, sempre mantemos contato, trocamos informações e tratamos das demandas de Santa Catarina, como as habilitações novas de leitos de UTI Covid que aconteceram até dezembro. Muitos foram habilitados para mais 90 dias, outros foram prorrogados para mais 60 dias. Mas falamos também da grande expectativa que todos nós tínhamos dos dados que a Anvisa iria apresentar sobre as vacinas. Com essas liberações, será um desenho, dentro daqueles critérios já definidos pelo plano nacional. Os municípios estão organizados. Nós temos no Brasil um privilégio e em Santa Catarina isso é muito forte: cada município tem no mínimo uma sala de vacina. Temos expertise para vacinação em massa. Com as vacinas do Butantan e Astrazeneca/FioCruz liberadas, nós teremos um quantitativo de pessoas imunizadas já a partir da chegada para a Secretaria do Estado da Saúde, que é a responsável pela distribuição. Eu vejo que vai chegar muito rapidamente e não apenas na capital do Estado, mas nos municípios próximos à capital e também no interior, pela logística e pelo conhecimento que a equipe da secretaria tem e pelo trabalho que foi desenvolvido para que a gente tenha a vacina no menor período de tempo e no maior número de municípios catarinenses.
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A senhora chegou a ser convidada a assumir a Secretaria de Saúde em maio do ano passado, quando houve a crise da compra dos respiradores e a saída de Helton Zeferino. Naquele momento a senhora recusou. Acha que fez certo?
Eu me coloquei à disposição do governador para continuar ajudando a secretaria em um grupo de trabalho. Compreendo que sim (que fez certo), porque continuei ajudando Santa Catarina através da minha atividade como relatora da comissão externa. Essa minha interlocução com as demandas de Santa Catarina e dos outros Estados junto aos órgãos do governo federal também é muito importante. Minha ideia é continuar ajudando sempre, independente de cargo. Eu já fazia isso lá atrás, indo buscar habilitações de serviços de alta complexidade para oncologia, cardiologia. Esse trabalho e esse apoio fazem parte do meu mandato e da minha vida como profissional da área de saúde que sou.
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