Mais jovem Estado da federação, quase três vezes mais extenso do que Santa Catarina, mas com menos de um terço da nossa população, o Tocantins virou um importante laboratório eleitoral nos últimos meses para os políticos daqui e do resto do país. Uma inoportuna eleição suplementar para governador a poucos meses da disputa oficial serviu como uma espécie de amostra do humor da sociedade em relação à classe política e seus efeitos na urna. Os resultados são interessantes, embora não entusiasmem.
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No domingo, o segundo turno da disputa de Tocantins consagrou o deputado estadual Mauro Carlessi (PHS) para o mandato-tampão de governador com 75% dos votos. A condição de presidente da Assembleia Legislativa já o colocava como interino no cargo desde o final de março, de forma que concorreu com a máquina na mão. Mesmo assim, a coligação liderada pelo pequeno PHS não lhe dava maioria nem no Legislativo Estadual e nem o maior tempo de televisão.
No primeiro turno, ele contava com pouco menos de 8 minutos diários nos programas do horário eleitoral. Menos do que o ex-prefeito de Palmas, Carlos Amashta (PSB, com um petista de vice e 13 minutos na tela), e a senadora Kátia Abreu (PDT, com apoio do ex-presidente Lula e pouco mais de oito minutos). Líderes no horário eleitoral, Amashta (sim, aquele) e a senadora ruralista ficaram fora do segundo turno, completado pelo também senador Vicentinho Alves (PR, três minutos e meio de rádio e televisão).
Talvez por ser um Estado jovem, o Tocantins tem uma divisão partidária bem mais fragmentada que a catarinense. A Assembleia tem 24 cadeiras e as maiores bancadas contam com apenas quatro representantes – PHS e MDB. Fazem parte do Legislativo 12 siglas. Aqui são 11, mas para 40 cadeiras. O número mais exposto nacionalmente nesta eleição suplementar e também o que mais impressiona é o de não-voto. Abstenções, brancos e nulos ultrapassaram metade do eleitoral tocantinense – resultado semelhante ao do primeiro turno.
O recado que vem do Tocantins é de extrema apatia do eleitorado, o que já se verificara ano passado na eleição suplementar para o governo do Amazonas e também é registrado nas pesquisas eleitorais. Outra lição que pode ser assimilada é de que notoriedade política, ampla aliança e maior tempo de horário eleitoral talvez não sejam garantia de sucesso, mas que ter a máquina administrativa nas mãos ainda pesa na urna.
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A eleição de outubro tem diversos ingredientes a mais, especialmente a combinação da disputa presidencial com a dos exércitos de candidatos a deputado estadual e federal caçando votos para si e para os líderes de suas coligações. A tradição política de Santa Catarina também faz a diferença, especialmente em favor de partidos como o MDB e o PP, com rivalidades entranhadas nos pequenos municípios. Mas é certo que vem aí uma eleição diferente e que os recados do eleitor do Tocantins talvez não estejam muito distantes dos que os catarinenses querem dar.