Já viu Romero Jucá sem bigode? O notório ex-senador do MDB de Roraima que esbanjou influência nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) apareceu sem o adorno característico logo após a derrota na tentativa do quarto mandato. Sem bigode, Jucá ficou diferente, mas continuou Jucá – que o digam os processos a que responde.
Continua depois da publicidade
Por que falo de Jucá? Porque nosso quadro partidário vive um momento de raspar o bigode. Este mês, por exemplo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitou o pedido do PR, Partido da República, para voltar a se chamar PL, Partido Liberal – 12 anos depois da troca. Volta às origens liberais, vão dizer os seguidores da legenda rebatizada do senador catarinense Jorginho Mello (PL). Rasparam o bigode da sigla de Waldemar da Costa Neto, podem dizer os críticos.
Na mesma época em que o PL desistiu de ser liberal, o tradicionalíssimo PFL – Partido da Frente Liberal – fazia o mesmo gesto. Com um banho de loja e marketing, a legenda mudou de cores, de símbolo e deu início à moda de trocar siglas por palavras bonitas. Virou Democratas, o DEM.
Vivíamos o auge do lulismo. Com mensalão e tudo, Lula havia sido reeleito a bordo do próprio carisma e do bom momento econômico que o país vivia. Ser liberal ou classificado como direita era suicídio político e as siglas foram se ajustando. Todos queriam ser centro-esquerda. Era assim, à época, que se raspava o bigode.
O pêndulo mudou de lado de lá para cá. A troca de nomes, de siglas e de discursos agora virou de lado. Em Santa Catarina, a principal movimentação partidária do mês foi a das lideranças do PSB, Partido Socialista Brasileiro, tentando deixar a legenda. Um dos motivos é o medo de que o socialismo nas siglas e a pecha de esquerdismo tenha efeito contrário nas urnas ano que vem – sendo nosso Estado, como é, epicentro da onda conservadora.
Continua depois da publicidade
Em Brasília, o PPS – Partido Popular Socialista – espera que o TSE aprove a mudança do nome para Cidadania. Pouco deve mudar nas posturas e votos do partido da deputada federal catarinense Carmen Zanotto. Livram-se, apenas do incômodo bigode. Escrevi aqui, semana passada, sobre as tentativas de trocas de legenda como último suspiro de um modelo partidário falido. A lógica é a mesma. Os 34 partidos registrados no TSE são, em ampla maioria, palavras vazias. Por isso conseguem mudar de nome como quem faz a barba.
Leia também:
Articulações para trocas de partido são último suspiro de um modelo falido