Uma das perguntas mais recorrentes a partir da deflagração da Operação Chabu, na terça-feira, era quais indícios teriam o peso para levar a Polícia Federal a pedir e ao Tribunal Regional Federal da 4a Região a autorizar a prisão temporária e o afastamento do cargo por 30 dias de uma prefeito de Capital – no caso, o florianopolitano Gean Loureiro. Faltava uma narrativa.
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Como a PF preferiu não se pronunciar, não detalhar o caso, a narrativa passou a ser feita por Gean Loureiro, assim que foi solto, a noite da própria terça. Apenas na quarta-feira começaram a surgir em vazamentos as peças que formam a narrativa da Operação Chabu. Em resumo, um grupo oferecia a políticos informações de antemão sobre investigações da PF e serviços para proteção contra grampos e afins.
O ex-emedebista é apontado como cliente de uma sala segura que seria construída com equipamentos contrabandeados do Paraguai. À frente do grupo, estaria José Augusto Alves, também investigado. Ao ser solto, Gean contou que as 70 perguntas que respondeu na PF tratavam da relação com esse grupo investigado, sobre a suposta sala segura e vazamento de informações sobre investigações.
O prefeito afastado, ao fazer sua narrativa, não citou o indício que pode ter sido o maior elo entre ele e o grupo investigado: ter pedido à ex-secretária estadual de Assistência Social, Romanna Remor (MDB), que mantivesse nomeada na assessoria jurídica da pasta Adriana Bernardi, mulher do investigado Marcelo Augusto Winter, policial rodoviária federal. Gean disse a Romanna que Winter era “responsável por um órgão muito importante para nós”, que não era questão política, “mas muito importante para a política”.
Procurado para comentar a intermediação, o ex-emedebista disse que fez o pedido a Romanna para atender Alves, aliados de campanhas eleitorais emedebistas. Falei com a ex-secretária, que estava fora da política desde que foi derrotada na disputa pela prefeitura de Criciúma em 2012 quando atendeu o convite do então governador Eduardo Pinho Moreira (MDB). Ela disse que já havia decidido manter a assessora quando Gean fez o pedido – e que por isso o aceitou tão prontamente. A ex-secretária afirmou que Adriana era bem avaliada internamente e que cuidava de temas jurídicos que não poderiam ter descontinuidade.
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– Para mim foi até um alívio quando o Gean fez o pedido, porque eu estava sendo muito criticada no MDB por estar fazendo indicações de nomes da universidade e mantendo quadros do PP que estavam na secretária – diz Romanna.
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