A disputa pelo comando da Assembleia Legislativa é um dos momentos mais interessantes do começo deste novo ciclo político aberto pela ascensão do PSL nas urnas – com seis deputados e o governador eleito Carlos Moisés da Silva – porque será o primeiro momento em que quem venceu usando a lógica da antipolítica precisará mostrar que também fazer política. Nessa lógica, o jogo de xadrez está em andamento.

Continua depois da publicidade

A eleição para presidência da Alesc e composição de sua mesa diretora segue uma lógica própria que vem funcionado bem desde 2005. Nela, a disputa acontece nos bastidores até que um grupo consiga os 21 votos que garantem maioria e definam quem será o novo presidente. Aí, voltam todos para a mesa para definir a composição da mesa pelo tamanho de cada bancada e a eleição é dada por unanimidade.

É a fórmula que colocou Júlio Garcia na presidência por duas vezes e garantiu as eleições de seus sucessores – Jorginho Mello, Gelson Merisio (três vezes), Joares Ponticelli, Romildo Titon, Silvio Dreveck e Aldo Schneider. Note, leitor, que dessa lista apenas Garcia e Merisio exerceram mandatos de dois anos, os demais precisaram dividi-lo.

Ao fim da eleição, a composição das bancadas mudou fortemente. Além da chegada do PSL, houve grande fragmentação das bancadas. A rigor, há três grandes bancadas – o MDB com nove, o já citado PSL e o PSD com cinco, um deles Garcia. Nesse arranjo, o ex-presidente volta à Alesc contraponto interno a Merisio, que ainda tem influência sobre os demais correligionários.

As primeiras conversas trouxeram uma espécie de prato feito. Um acordo envolvendo o MDB e o PSL com Garcia para a criação da um base governista resultaria em um acerto para que o primeiro mandato de presidente ficasse com Valdir Cobalchini (MDB) e o segundo para o pessedista dissidente – resolvendo agora os quatro anos da legislatura.

Continua depois da publicidade

Há, no entanto, reação ao prato feito. No próprio MDB surgem nomes como Mauro de Nadal e Moacir Sopelsa dispostos a entrar na disputa. Os demais partidos conversam para a formação de dois blocos partidários que garantam posições na mesa e nas principais comissões e os fortaleçam diante da possível aliança entre o novo governo e os emedebistas.

Na mesa para a costura desse bloco alternativo – para não dizer oposicionista – na disputa pela presidência da Assembleia está uma oferta generosa: a possibilidade de também definir desde já os presidentes dos próximos quatro anos, mas fazer isso com um ano de mandato para cada legenda. Isso pode atrair partidos que hoje seriam necessários para formar maioria. Há quem acredite que até mesmo um nome do MDB possa fazer parte desse rodízio.

Esse tipo de acordo é comum na Assembleia do Rio Grande do Sul, mas nunca foi praticado por aqui. A tradição no Estado é de a cada dois anos ter uma nova disputa, testando a correlação de forças. As tradições, no entanto, saíram um pouco abaladas das urnas de outubro. Será interessante ver como o governo Moisés vai reagir ou se adaptar a esse contexto.