Se a frase que dá título a este texto fosse uma pergunta, a resposta poderia ser breve: muita coisa, mas muito menos do que alguns meses atrás. O governo Carlos Moisés (PSL) começa a viver aquilo que na política chamamos de tempestade perfeita – a soma das perdas de apoio político e da sociedade com algum escândalo de ocasião. O resultado dessa equação é o impeachment, o drástico gesto de um governante ser cassado pelo parlamento.
Continua depois da publicidade
> Alesc aprova pedido de impeachment de Carlos Moisés; entenda
Falando tecnicamente, hoje existem cinco pedidos de impeachment do governador Carlos Moisés em análise na procuradoria da Assembleia Legislativa. É o mesmo cenário do início de maio, quando a compra dos respiradores fantasmas por R$ 33 milhões reportada pelo site The Intercept motivara a instalação de uma CPI na Alesc. Apenas um desses pedidos, assinado pelos deputados estaduais Maurício Eskudlark (PL) e Ana Campagnolo (PSL) trata do tema que mergulhou de vez Moisés na crise política em meio à pandemia do coronavírus.
É apenas através do processo de impeachment que um governador pode ser afastado do cargo pela Alesc. O resto, é retórica. Nos últimos dois dias, o relator da CPI dos Respiradores, Ivan Naatz (PL), antecipou o tom que dará ao relatório final da investigação, apontando que considera que Moisés mentiu ao dizer que não sabia de detalhes da compra – especialmente o pagamento antecipado de R$ 33 milhões. Chegou a falar em pedir o afastamento do governador. Isso pode até estar no relatório, mas a CPI não tem essa competência.
Assim, de forma técnica, o caminho natural seria o relatório de Naatz basear um robusto pedido de impeachment do governador por causa da polêmica compra de respiradores – isso porque o pedido de Ana Campagnolo e Eskudlark trata superficialmente do episódio, misturado a outros temas. O problema desse encaminhamento é que um impeachment baseada no caso dos respiradores ascende ao comando do Estado a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido), que não tem respaldo político na Assembleia Legislativa. Também novata na política, ligada do bolsonarismo, ela é considerada uma incógnita como possível governadora, além de não ter demonstrado habilidade nas conversas de bastidor que tentou encaminhar na construção do afastamento de Moisés.
Continua depois da publicidade
Assim, resta a alternativa de pinçar o pedido de impeachment baseado na polêmica equiparação salarial dos procuradores do Estado com os da Assembleia Legislativa – que foi apresentado em janeiro deste ano pelo defensor público Ralf Zimmer, arquivado pelo presidente Júlio Garcia (PSD) em fevereiro e reapresentado em maio por Ivan Naatz. A diferença desse pedido é que ele também engloba Daniela Reinehr, com a alegação de que não desfez o ato apontado como irregular nos 14 dias em que assumiu o governo interinamente em janeiro, quando o caso veio à tona.
O pedido de impeachment baseado na equiparação salarial dos procuradores não chega perto do impacto midiático do caso dos respiradores, mas é tido como solução aceitável nos bastidores por viabilizar uma nova eleição para governador – que seria direta se a cassação de Moisés e Daniela acontecer ainda este ano, indireta (eleitos pela Alesc) se após 2021. Mesmo assim, a questão jurídica é complexa e não há atos formais de governador e vice-governadora respaldando uma equiparação cuja irregularidade ainda não está cristalizada nem administrativamente e nem juridicamente.
Mas mesmo que por decisão política – e o impeachment é um julgamento essencialmente político – a deposição de Moisés e Daniela não é tão simples e nem tão rápido. O trâmite do impeachment dos governadores é diferente dos de presidente da República. Em Brasília, cabe à Câmara dos Deputados aceitar o processo e afastar o presidente, enquanto julgamento é feito pelo Senado. Ou seja, decidido totalmente por políticos.
Aqui no Estado, cabe à Alesc o papel da Câmara dos Deputados, aceitando o processo e afastando o governador com os votos de pelo menos 27 dos 40 parlamentares. Mas o impeachment mesmo, a condenação, vem de um grupo integrado por cinco deputados estaduais eleitos pelo plenário e cinco desembargadores do Tribunal de Justiça sorteados, com o presidente da corte judicial presidindo esse grupo especial com direito a voto de minerva.
Continua depois da publicidade
Em resumo, podemos dizer que o impeachment de Moisés sozinho, hoje, não teria respaldo de uma Alesc que não confia em Daniela. E que a cassação da chapa eleita em 2018 precisaria de um grande acordo estadual, com o TJ-SC, com tudo – parafraseando a frase clássica de um ex-senador roraimense que entendia das coisas.
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que publico no NSC Total e outras mídias. É só procurar por Upiara Boschi – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/upiaransc