Existem duas coisas que são muito difíceis no mundo da política: ter um estilo e mudar de estilo. Ao longo das mais de três décadas em que é personagem da vida pública catarinense, o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) criou um estilo claro e reconhecido por aliados, adversários e indiferentes – o político conciliador, que evita a discussão em público e que sabe manter próximo de si os diferentes.

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Quem puxar pela memória vai lembrar das várias vezes que o então governador Colombo, em meio a uma polêmica qualquer, puxava o bordão “briga política não constrói hospital”. Esse estilo consolidado, tão difícil de ter, fez com que muitas vezes Colombo fosse visto como um governante indeciso, titubeante, frágil diante das pressões dos (muitos) aliados.

De qualquer forma, foi desse modo que ele comandou Santa Catarina por sete anos, entre 2011 e 2018. As citações por delatores no âmbito da Operação Lava Jato, a crise econômica nacional atingindo a arrecadação estadual e o próprio desgaste da ampla aliança que herdou de Luiz Henrique da Silveira (PMDB) deram um tom melancólico ao fim da gestão, que culminou no decepcionante quarto lugar na disputa por uma cadeira no Senado.

Desde então, Colombo busca voltar ao tabuleiro político. Não apenas por necessidade de disputar eleições ou por algum tipo de desforra. O pessedista quer resgatar o legado de seus anos à frente do Estado. Não é uma tarefa fácil. Nem mesmo no PSD, hoje, ele seria aclamado se decidisse construir uma nova candidatura ao governo em 2022.

É nesse contexto que vemos um princípio de metamorfose no ex-governador. O embate com o governador Carlos Moisés (PSL) sobre quem é o mais responsável pela devolução da Ponte Hercílio Luz aos catarinenses explicitou um movimento em que o Colombo parte para o confronto. Não é o estilo a que estamos acostumados, mas parece que o pessedista entendeu que a política na era do like em rede social precisa do embate – e está disposto a fazê-lo.

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Surge, então, um Colombo inusitadamente diferente. No dia da reabertura da Hercílio Luz, 30 de dezembro, lançou nota em que ironiza o debate sobre a “paternidade da reforma da ponte” – diz que “há nada mais atrasado na política do que buscar o aplauso por algo que é feito com o dinheiro de quem paga imposto”. Complementa com um instrumento raro quando se fala de Colombo: o deboche.

Reproduzo a fala dele: “Estou disposto a dizer para quem me perguntar que a abertura da ponte é mérito do atual governo e que Santa Catarina é esse estado maravilhoso também por conta de ‘tudo o que foi feito’ a partir de 2019. Só peço uma coisa em troca: que abram imediatamente a nova ala do Hospital Tereza Ramos em Lages, do Marieta Konder Bornhausen em Itajaí e do Hospital Regional de Chapecó. Também são obras que deixamos praticamente concluídas e que seguem fechadas prejudicando milhares de famílias de Santa Catarina”.

É possível que Colombo consiga mudar um estilo tão marcante – e tão marcado – diante do eleitor para ocupar o espaço ainda vago de antagonista de Moisés? Difícil, é, mas parece ser esse o trilho possível para o ex-governador manter-se politicamente relevante.

Publicado nas edições de DC Revista, AN Revista e Santa Revista de 4/1/2020

Leia a coluna da semana anterior:

Passado, presente e futuro da Ponte Hercílio Luz