É da lógica da política projetar a próxima eleição assim que terminam se ser contados os votos da última. Os vencedores, os derrotados, os aliados que pesaram nesses resultados, tudo isso vai para a equação que tenta antecipar o que pode ser vivido na próxima disputa. Há muitas respostas nestas análises, mas frequentemente o eleitor tem mudado as perguntas entre uma eleição e outra.

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É claro que a reeleição de Gean Loureiro (DEM) em Florianópolis, ainda em primeiro turno, o credencia para disputar a majoritária estadual. Da mesma forma, os exuberantes 72% dos votos que reelegeram Clésio Salvaro (PSDB) o colocam no jogo. A reeleição com percentual semelhante em Jaraguá do Sul fez do empresário Antídio Lunelli a aposta da vez do MDB.

Por outro lado, os senadores Dário Berger (MDB), Esperidião Amin (PP) e Jorginho Mello (PL) saíram fragilizados – especialmente os dois primeiros. Dário e Amin deixaram a velha rivalidade de lado e estavam juntos no palanque de Angela Amin (PP) em Florianópolis, quarta colocada na disputa. O eleitor rejeitou ou nem ficou sabendo da aliança – tão discreta que foi. Jorginho viu o PL crescer em prefeitos e vereadores, mas aquém do que se espera de alguém que já trabalha para ser candidato a governador de Santa Catarina. A aposta de abrigar os bolsonaristas insatisfeitos com o PSL mostrou pouco resultado. Muita briga na redes social, pouco voto. Isso talvez faça com que Jorginho precise de uma aliança mais ortodoxa para se viabilizar – sem deixar, é claro, a vinculação com o presidente Jair Bolsonaro, que deve ter peso maior na eleição estadual.

Esses são apontamentos iniciais, quase óbvios – desculpe, leitor. As eleições brasileiras e catarinenses trazem verdades que não tem durado dois anos. Em 2016, os grandes vitoriosos das eleições eram os reeleitos Napoleão Bernardes (ex-PSDB, hoje PSD) em Blumenau e Udo Döhler (MDB) em Joinville. Muitos achavam que 2018 passaria por eles. Não passou, estavam fora da Onda Bolsonaro. Napoleão foi candidato a vice-governador e perdeu. Udo não conseguiu ser candidato e este ano ancorou a candidatura de seu aliado, Fernando Krelling (MDB), que ficou fora do segundo turno.

Mandatos prorrogados

A discussão sobre as eleições em meio à pandemia fizeram muita gente defender o cancelamento das disputas deste ano, prorrogando os mandatos dos atuais ocupantes até 2022. Nessa frente, estavam principalmente os militantes da eleição unificada. A ideia não prosperou, com resistências no Congresso e no Judiciário. No fim das contas, foi o eleitor que prorrogou mandatos. Das 20 maiores cidades de Santa Catarina, em 14 o prefeito era candidato à reeleição. Destes, 12 foram eleitos no último domingo. Mário Hildebrandt (Podemos) ainda disputa o segundo turno em Blumenau e Magno Bollmann (PP) foi derrotado em São Bento do Sul.

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Deu a lógica

Não é mera casualidade que o aumento do número de mulheres nas câmaras de vereadores aconteça depois de duas decisões do Tribunal Superior Eleitoral. Primeira, aquela que definiu que cabe a elas 30% dos recursos do fundo eleitoral. Depois, a decisão em caso na cidade de Valença (BA) que cassou uma chapa inteira, incluindo os eleitos, pela constatação de que havia candidaturas laranja de mulheres – apenas para bater a cota de gênero. Como dizia o advogado eleitoral Alexandre Abreu, os partidos precisam estar preparados para provar que as mulheres não só se candidataram, mas que fizeram campanha. Com mais dinheiro e sendo realmente candidatas, temos mais eleitas. E ainda é só o começo.

A turma do Novo

Se olhar apenas os números, o desempenho do Novo é de partido nanico em SC: sete vereadores e, por enquanto, nenhum prefeito. No entanto, as peculiaridades da legenda fazem com que saía como uma das grandes vitoriosas da eleição catarinense. Nacionalmente, o Novo decidiu que estaria presente apenas em seis cidades no Estado: Joinville, Florianópolis, Blumenau, São José, Jaraguá do Sul e Balneário Camboriú. Em todas, elegeu vereadores. Se Adriano Silva vencer Darci de Matos no segundo turno joinvilense, o partido entra com força no mapa político do Estado e passa a merecer maior atenção para 2022. Se não vencer, ainda assim, deve fazer bastante barulho.

Conexão Rio-Floripa

São curiosas as semelhanças entre o prefeito Gean Loureiro, de Florianópolis, e o ex-prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro. Ambos apostam na mística do prefeito atuante, engajado, simpático, que gosta da função. Ambos eventualmente se metem em confusão, mas acabam se livrando delas. O carioca e o manezinho tem outra coisa em comum: a trajetória partidária. Eram do PSDB até 2007, quando foram para o PMDB naquele mesmo ano. Ambos também fugiram do partido pelo desgaste nacional emedebista e escolheram o mesmo destino: o DEM. Paes em 2017, Gean em 2019. A fórmula deu certo em Florianópolis. No Rio, o segundo turno vai dizer.

Sinal de alerta

A esquerda mostrou relevância em Florianópolis, com o segundo lugar de Elson Pereira (PSOL) e a conquista de quatro cadeiras na Câmara – três do PSOL, uma do PT. Também comemora o retorno ao parlamento de Joinville, com uma cadeira do PT. Mas o panorama estadual é preocupante. O PT elegeu apenas 11 prefeitos, em municípios que comandos representam pouco menos de 1% da população do Estado. Os petistas terão 154 vereadores, 50 a menos do que elegeram em 2016. Uma redução que, sem fato novo, deve se refletir nas eleições de 2022.

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Pelo telefone

Discretamente, o governador afastado Carlos Moisés (PSL) vai tentando costurar seu retorno ao comando do Estado. Um dos exercícios é provar aos políticos que está disposto a ser político também. Na segunda-feira, Moisés telefonou para prefeitos eleitos na véspera. Na lista, dois nomes com quem teve relação difícil nos primeiros dois anos de mandato: Gean Loureiro e Clésio Salvaro (PSDB), de Criciúma. O gesto foi bem recebido por ambos. O tucano até aproveitou passagem por Florianópolis para visitar a Casa d’Agronômica.

Concisas

– Uma medida do tamanho do fracasso eleitoral das chapas do PP e do MDB em Florianópolis, que não elegeram vereadores. A Câmara da Capital tem 23 cadeiras. Para que os progressistas entrassem, precisaria que tivesse 26. Para o MDB, 30.

– Ainda tem muita laranja por aí. A ver se a Justiça Eleitoral vai efetivar a sinalização de tolerância zero com chapas alaranjadas.

– Dois slogans aposentados: “fechado com Bolsonaro” e “candidato do Bolsonaro”.

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