Há um jogo de palavras interessantes em uma das respostas da deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL) na entrevista que me concedeu no programa Cabeça de Político. Após a parlamentar reiterar suas críticas ao governador Carlos Moisés (PSL) – que aponta estar “bem afastado do pensamento conservador e liberal” – pergunto se ambos cabem no mesmo partido.
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– Eu fico no partido do Bolsonaro. A menos que me expulsem, eu fico sempre com Bolsonaro. Se alguém tiver que sair, acho que não sou eu – diz a deputada.
Esse jogo de palavras é muito importante para o contexto nacional e estadual dos grupos que chegaram ao poder a bordo da onda conservadora em 2018. As reclamações de Moisés ao comportamento crítico – e até jocoso – de Ana Campagnolo e Jessé Lopes durante as discussões sobre a taxação os agrotóxicos foram dirigidas ao diretório nacional do PSL, que avalia punição. Depois, também em uma edição do Cabeça de Político, o governador disse que considerava que a expulsão da dupla era um exagero, mas deixava claro que esperava alguma reprimenda.
Na mesma semana, Ana Campagnolo divulgava um vídeo com elogios do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) – terceiro filho de Bolsonaro e candidato a embaixador dos Estados Unidos. Reafirmava o laço com o bolsonarismo, de que Moisés volta e meia parece querer se afastar. Parece claro que Ana Campagnolo e Jessé são, sim, do partido de Bolsonaro.
E o PSL? O Partido Social Liberal foi alçado de nanico a potência no Congresso Nacional graças à disposição de seu principal cacique, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE) de ceder a sigla a Jair Bolsonaro quando o então presidenciável buscava qualquer legenda que lhe permitisse concorrer a seu modo. Antes, tentou PSC e Patriota, onde não se acertou com os proprietário – hoje devem lamentar muito.
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Pois Bivar deu freio ao movimento que estava transformando o PSL em Livres – um partido liberal na economia e nos costumes, que os bolsonaristas chamavam de PSOL roxo. Emprestou o partido a Bolsonaro e em troca ganhou ampla bancada de deputados federais, fundo partidário e fundo eleitoral milionários.
Volta e meia Bolsonaro dá pistas de que queria ter maior controle sobre o partido, insinua que pode deixá-lo. Há gente ao seu redor que defende um partido 100% bolsonaro, o que o PSL ainda não conseguiu ser.
É por isso que nem Ana Campagnolo e nem Carlos Moisés devem deixar o PSL. Esse movimento no seio conservador será decidido em Brasília. Como quase sempre é.