Se havia uma trégua na transição de governo entre Raimundo Colombo (PSD) e Eduardo Pinho Moreira (PMDB), ela acabou na manhã de quarta-feira, na entrevista coletiva em que o peemedebista anunciou medidas para reduzir o gasto com folha de pagamento e – palavras dele – colocar a “real situação do Estado”. Por mais que medisse as palavras, o tom do governador lembrava o de novas gestões que anunciam a tradicional abertura da caixa-preta.

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As medidas – antecipadas como drásticas – valem para o campo simbólico. O corte de 20% nos cargos comissionados ou funções gratificadas, 239 postos, ainda não tem nome, rosto e endereço. Embora seja uma medida bem recebida na sociedade por sugerir que os políticos estão cortando na carne, em termos de economia não chega a meio ponto percentual dos 49,7% da arrecadação que o Estado hoje gasta com folha. Pinho Moreira também anunciou que nenhum novo reajuste será concedido este ano, o que deve gerar pressões do funcionalismo, mas também ganha aplauso fácil no eleitorado.

Há muito de política nos anúncios de ontem – embora não se deva, em hipótese alguma, negar a situação complicada das contas do Estado. Pinho Moreira e o secretário Paulo Eli, da Fazenda, foram claros ao dizer que consideram ter havido excessiva generosidade com reajustes salariais no segundo mandato de Colombo. Todos os gráficos sobre o crescimento dos gastos tinham início em 2011, primeiro ano do governo do pessedista. Alguns dados de contexto foram ignorados, como a implantação do piso nacional do magistério e a reposição de 1,3 mil policiais civis e militares ano passado. Foi ignorada também a presença do PMDB no governo e no grupo gestor nesses anos todos. Na prática, a folha estourou porque a arrecadação ainda não voltou aos patamares pré-crise e só essa recuperação tira o Estado do vermelho.

No entanto, o discurso sugere perda de controle das contas durante o governo Colombo – especialmente no período em que Antonio Gavazzoni (PSD) comandou a Fazenda. Ao acertar Gavazzoni, o alvo é Gelson Merisio (PSD), pré-candidato do PSD ao governo. O ex-governador, pré-candidato ao Senado, sofre o dano colateral.

Pinho Moreira diz que ainda não pensa em eleição e que os pré-candidatos precisam cobrar dos deputados estadual de seus partidos que não permitam o avanço de projetos que resultem em aumento de gastos. Pela LRF, os próximos passos para reduzir folha envolvem medidas drásticas como demissão de servidores efetivos em estágio probatório. Na seara partidária, o governador também trabalha. Em fevereiro, anunciou que a Secretaria de Planejamento seria incorporada pela Fazenda como uma das medidas para reduzir a máquina estatal. Esta semana, decidiu nomear o Francisco Camargo, dono da franquia do PTB em SC, para comandar a pasta. Perguntei se era um arranjo para contar com o partido na aliança.

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— Serei transparente. É, sim. E teremos outros.