Tenho por hábito desconfiar daqueles que veem nas eleições um problema. Eleição é solução, é o saudável hábito periódico de devolver o poder àquele de quem ele emana: o povo. A pandemia do coronavírus atingiu em cheio o calendário eleitoral brasileiro e fez com que surgissem duas vertentes em um debate sobre a possível impossibilidade de que sejam realizadas em outubro as eleições para prefeito e vereador.

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A mais comedida destas vertentes é aquela que advoga por um pequeno adiamento do calendário – jogando o primeiro turno das eleições para o final de novembro ou início de dezembro. Joga o pleito um pouco mais para longe das expectativas de pico da pandemia no Brasil e facilita a realização plena das campanhas à moda antiga, com muita sola de sapato gasta e apertos de mão.

Essa tese ganhou força ao ser admitida pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Roberto Barroso, e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos se opõem veementemente à segunda vertente deste debate, que é a tentativa casuística de espichar os mandatos dos atuais prefeitos e vereadores até 2022 para unificar o calendário eleitoral. A tese, obviamente, é defendida pelos prefeitos – através de entidades como a Federação Catarinense de Municípios (Fecam) e Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Há anos que estas entidades, entre outras, puxam esse debate pautado em ver a eleição como problema. Por isso, seria melhor para o Brasil que todos fossem às urnas de uma vez a cada quatro ou cinco anos, para eleger em um mesmo dia vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, deputados federais, senadores e presidente. A pandemia criou um pretexto para a sempre polêmica necessidade de espichar ou encurtar algum mandato para viabilizar a proposta.

É casuísmo, que fique claro. Em muitos casos, encampado por quem critica as medidas de restrição ao convívio social por seus efeitos negativos na economia do Estado ou do país. Consumir, pode; votar é perigoso. No fundo, estão certos numa coisa: o voto é mesmo um perigo.

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Frase

Muitas cidades já autorizaram ou estão estudando autorizar a reabertura do comércio, de academias, de salões de beleza. Quer dizer, o cidadão pode sair para fazer compras, para se exercitar, para cortar o cabelo, e não para votar? Democracia também é atividade essencial

Paulo Afonso Vieira (MDB), ex-governador, em defesa da manutenção das eleições em outubro durante videoconferência de emedebistas catarinenses com o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi.

Desalinhados

Ivan Naatz (PL) e João Amin (PP) no plenário da Alesc
Ivan Naatz (PL) e João Amin (PP) no plenário da Alesc (Foto: Fábio Queiroz, Agência AL/Divulgação)

Que Ivan Naatz (PL) e João Amin (PP) estão desalinhados na CPI dos Respiradores já era nítido antes mesmo de discutirem em público ao final das 10 horas dos depoimentos dos ex-secretários Douglas Borba e Hélton Zeferino e da servidora Márcia Regina Pauli. O estopim das brigas é sempre o mesmo: autor do pedido de acareação entre os três, João Amin acredita que Naatz tenta protelar o encontro – que deve acontecer na terça-feira. Mas os projetos políticos dos senadores Esperidião Amin (PP) e Jorginho Mello (PL) também entram nesse caldeirão.

Tiro certo

A deputada estadual Ana Campagnolo (PSL) andava discreta nas críticas ao governador Carlos Moisés (PSL), mas soube usar os instrumentos que o cargo lhe garante para causar mais uma fissura na nau governista. Com um pedido de informação ao Centro Administrativo descobriu que dos R$ 20 milhões repassados pela Alesc para ajudar o Executivo no combate ao coronavírus, R$ 16 milhões foram gastos com os famigerados respiradores fantasmas.

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Resguardada

Nelson Scheffer Martins e Márcia Regina Pauli na CPI dos Respiradores
Nelson Scheffer Martins e Márcia Regina Pauli na CPI dos Respiradores (Foto: Fábio Queiroz, Agência AL/Divulgação)

Duas coisas chamaram atenção no depoimento da servidora Márcia Regina Pauli, terça-feira na CPI dos Respiradores. Primeiramente, o preparo da ex-superintendente de gestão administrativa da Secretaria da Saúde. Tinha na ponta da língua detalhes e até frases ditas pelos superiores durante o processo da desastrada compra dos respiradores da Veigamed. Em segundo, mas não menos importante, a presença ativa como seu advogado do ex-presidente do Tribunal de Justiça Nelson Scheffer Martins.

Mensagem do passado

Folha Nova de 1926
Folha Nova de 1926 (Foto: Reprodução)

Em novembro de 1926, o jornal Folha Nova iniciava suas atividades em Florianópolis com uma carta de intenções colocada ao lado do logotipo. Dizia assim: “Preferimos informar a comentar, preferimos elogiar a censurar, mas não elogiaremos o erro e nem censuraremos o bem. Em qualquer caso, desejamos ser, sempre, otimistas, tolerantes e corteses. Temos um horizonte: a bondade, o afeto ou o cavalheirismo em todas as emergências e o júbilo da vida em todas as situações. É nosso ideal congraçar, construir, resistir à treva e homenagear a luz. Dê-nos o povo seu amparo e certo que não soçobraremos em meio da jornada”.

Diretor do Folha Nova, o jornalista Crispim Mira foi assassinado em plena redação três meses depois, fevereiro de 1927, por causa de artigos em que denunciava irregularidades nas obras da dragagem do porto que havia em Florianópolis. Os culpados nunca foram punidos. Em tempos de ataques ao jornalismo profissional, a mensagem do mártir catarinense de nossa profissão continua válida. Não soçobraremos – naufragar, fracassar – no meio desta jornada.

Concisas

– No primeiro round da luta Borba-Zeferino-Pauli, quem levou a pior foi o ex-secretário de Saúde. E o governo, claro, que sai no lucro se terminar esse episódio todo acusado apenas de imperícia e inexperiência.

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– Toda sexta-feira respondo perguntas em uma live no instagram. É logo depois do NSC Notícias no perfil @upiaraboschi.

– Saulo Sperotto (PSDB), prefeito de Caçador, deixou a presidência da Fecam na quinta-feira. Ele é o entrevistado no Cabeça de Político Podcast desta semana. Ouça nas plataformas Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts ou abaixo:

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