A reconstrução das relações entre o Centro Administrativo e o parlamento catarinense não passa apenas pela participação efetiva do novo secretário da Casa Civil, Amandio João da Silva Junior, juntos aos deputados estaduais. Na terça-feira, o governador Carlos Moisés (PSL) almoçou com o presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD).
Continua depois da publicidade
O cardápio do almoço servido na Casa d’Agronômica foi a reabertura do diálogo entre os poderes em meio à crise política. A relação entre Moisés e o parlamento ruiu durante a pandemia do novo coronavírus, com os deputados estaduais reagindo às decisões do governo para conter o avanço da doença no Estado. O clima azedou de vez com a publicação da reportagem do The Intercept que mostrou os indícios de irregularidades na compra de 200 respiradores de UTI por R$ 33 milhões – pagos antecipadamente. A denúncia gerou abertura de uma CPI na Assembleia e a operação conjunta entre Polícia Civil, Ministério Público de Santa Catarina e Tribunal de Contas do Estado – Operação O2, deflagrada sexta-feira passada.
Todo esse episódio levou à saída de Douglas Borba da Casa Civil, ainda no sábado, investigado como integrante do suposto esquema montado para lesar os cofres públicos em compras durante a pandemia, de acordo com a força-tarefa. Borba concentrava toda a articulação política do governo Moisés – inclusive a construção do PSL para as eleições municipais. Essa concentração de poder era criticada entre adversários e aliados do governador – cada vez mais raros.
Assim, Moisés iniciou a semana dando posse a Amandio como novo secretário da Casa Civil e este assumiu falando em “sair do tensionamento para uma harmonia”. Na terça-feira, o secretário bateu ponto na Assembleia e mostrou entrosamento com a líder do governo, a deputada estadual Paulinha (PDT). Enquanto isso, na Casa d’Agronômica, Moisés recebia Júlio Garcia. A relação entre ambos nunca foi próxima – muito por resistência do governador em relação à chamada “velha política”. O encontro entre o governador ainda novato e o experiente parlamentar foi positivo, deixando boas impressões em ambos, dizem interlocutores.
Estabelecer o diálogo com o presidente da Assembleia é fundamental para o governador, alvo agora de mais dois pedidos de impeachment apresentados na terça-feira. Como manda o regimento, Garcia encaminhou as peças para análise da procuradoria da Assembleia. É com base no parecer do órgão que o presidente deflagra ou não os processos – hoje, Moisés não teria base para impedir a cassação. O convite a Júlio Garcia para um almoço, entre outros gestos de aproximação com os parlamentares, mostra disposição de Moisés para mudar o DNA de isolamento que até agora marcou seu governo.
Continua depois da publicidade