— Você pensava que ia passar a vida inteira sem pagar um mico desses, seu nojento?
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A frase dura foi dita por um caminhoneiro em um palanque improvisado em que questionava a presença do ex-deputado estadual Manoel Mota (MDB) em um local onde estavam dezenas de grevistas da categoria. Mota acabaria deixando o local sob vaias, como mostra um vídeo que está circulando pelas redes sociais. A cena tem forte carga simbólica justamente pelo que significa o “vida inteira” na fala dirigida ao emedebista.
Nos anos 1970, Manoel Mota conduzia em seu caminhão cargas de cebola. Dirigindo pelo litoral, buscava o produto nas cidades gaúchas de Mostardas e São José do Norte – era uma época em que a produção catarinense não suficiente para a demanda local. O caminhoneiro Mota filiou-se ao MDB, entrou para a política e em 1982 acabaria eleito prefeito de Araranguá. Na praia de Arroio do Silva, hoje município, criou encontros da categoria e o famoso Arrancadão – inspirado nas viagens pelas areias da praia para trazer cebolas gaúchas para Santa Catarina.
Em 1990, elegeu-se deputado estadual pela primeira vez e foi permanecendo na Assembleia Legislativa – às vezes titular, às vezes suplente – até março deste ano, quando precisou devolver a cadeira. Nos 28 anos como parlamentar, sempre exaltou o passado caminhoneiro e defendeu a categoria na tribuna.
No vídeo que circula nas redes, Mota é cobrado pelo voto a favor do plano de carreira do magistério em 2015. Quem filma, pelo celular, começa a dizer que avisou o ex-deputado de que ele não seria bem-vindo entre os caminhoneiros grevistas. Mota insistiu, sentou em uma das mesas centrais. Ouviu um comício contra ele. Em determinado momento, levanta-se, tenta falar.
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— Eu vim aqui para ajudar. Uma causa que foi a minha vida.
O emedebista é interrompido aos gritos de “não queremos tua ajuda” e “não queremos tua opinião”. Resigna-se e deixa o local, cabisbaixo.
A primeira reação frente a um vídeo como esse é apontar o descrédito de Mota junto à sua mais antiga base eleitoral. Caminhoneiro na origem, Mota tornou-se uma figurinha repetida da política no extremo Sul do Estado. A eleição de 2014, quando ficou com a terceira suplência da coligação, já indicava um fim de carreira. Mas o vídeo é um recado para toda a classe política, especialmente a que vai tentar renovar seus mandatos em outubro. Eis o bordão “não me representa” aplicado à vida real.