O fim do casamento de cinco anos entre o PSB e o núcleo de ex-pefelistas que tocavam o partido no Estado era previsível e a própria existência dessa ala liberal era alvo de questionamento nacional entre os socialistas. As observações são do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, na avaliação sobre o judicializado divórcio entre os grupos – com direito a intervenção no diretório e ações judiciais para requisitar mandatos.
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De acordo com Siqueira, esse impasse ideológico ficou evidente em setembro do ano passado quando expulsou sumariamente o prefeito chapecoense Luciano Buligon por anunciar apoio ainda em primeiro turno a Jair Bolsonaro na corrida presidencial.
Leia a entrevista:
Como que a saída negociada do grupo que comandava o PSB catarinense virou uma guerra jurídica?
Se não foi como acertado é por causa deles. O acordo feito com o próprio Paulinho Bornhausen foi de que o diretório seria dissolvido dia 30 e não dissolveram. Ao contrário, durante este prazo sorrateiramente desfiliaram dois deputados. Nós descobrimos em tempo e fomos a juízo pedir os mandatos. Agora, esse grupo sair eu acho a coisa mais natural do mundo. São pessoas de ideologia liberal, que não correspondem ao ideário do nosso partido. Elas têm o direito de sair, menos aqueles que se elegeram pelo PSB. Esses podem sair, mas perderão mandato.
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Na conversa com Paulo Bornhausen, houve algum acordo para abrir mão de pelo menos parte dos mandatos?
Não houve acordo nenhum, nenhum. Ele conversou duas horas e meia comigo, muito civilizadamente. Em momento algum se tratou desse assunto de mandatos. Ele apenas pediu para que deixasse até o dia 30. Sempre tivemos um relacionamento excelente, mas o compromisso que ele assumiu comigo, não cumpriu.
Algumas lideranças do PSB-SC acabaram decidindo não seguir Bornhausen na saída. Conversou com elas antes de definir a intervenção?
Há muitas pessoas que tem disposição de permanecer. Aquelas que tem identificação com o ideário do partido não tem nenhuma razão para sair. São bem-vindos a permanecer.
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Esse grupo liberal ficou cinco anos no partido. O PSB praticamente não existia no Estado e cresceu. Não era uma espécie de bomba-relógio esse racha, algo previsível de que aconteceria?
Não tínhamos a menor dúvida de que aconteceria isso em algum momento. Por mais civilizado que sempre foi o nosso relacionamento com Paulinho, é evidente (a diferença ideológica). Muita gente me questionava, em toda parte do país e do partido, por que tinha esse pessoal no partido. Eu dizia “esse pessoal não entrou através de mim, eu encontrei eles lá, temos um bom relacionamento, eles estão trabalhando o crescimento do partido”. Mas nunca tive a expectativa de que fossem permanecer porque ficou evidente, inclusive na última eleição, quando tive que tirar o (prefeito chapecoense Luciano) Buligon (expulso do partido) que anunciou apoio ao Bolsonaro. Quem vota no Bolsonaro não pode permanecer no PSB. Respeito o resultado da eleição, sou um socialista democrata, mas temos uma forma diametralmente oposta a esse que foi eleito presidente da República. Não faz sentido que estejam no PSB e apoiem este governo. Percebo que alguns querem e podem fazê-lo, mas não através do PSB.
Há uma expectativa sobre o futuro do deputado federal Rodrigo Coelho, único do PSB em SC. Acha que ele permanece?
Acho que ele não terá como sair, porque o mandato é do partido. Ele não se elegeu só com os votos dele, assim como todos os deputados estaduais e vereadores. Ninguém fez o quociente eleitoral sozinho. O Rodrigo não me falou nada a esse respeito, não manifestou vontade de sair e tem demonstrado na Câmara até o momento que está sintonizado com a direção nacional do partido.
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