A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD), por lavagem de dinheiro, era o fato novo que o governador Carlos Moisés (PSL) ansiava na tentativa de mudar o rumo do impeachment de que é alvo no parlamento. A Operação Alcatraz, que paira sobre o pessedista desde que foi deflagrada pela Polícia Federal no final de maio do ano passado, é tida no Centro Administrativo como contraveneno à praticamente inevitável aprovação em plenário da abertura do processo de afastamento de Moisés e da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) no plenário da Alesc.
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Coincidentemente ou não, foi definida nesta terça-feira a antecipação da votação para a sessão de quinta-feira, adiantando em preciosos cinco dias a definição sobre a continuidade do processo de impeachment. No fim da semana passada, levantamento indicava que Moisés contava com apenas seis votos para escapar da aceitação do pedido no plenário – quando precisa que 14 dos 40 deputados votem contra o impeachment se abstenham abstenções. Na sexta-feira, já havia quem falasse em “estouro da boiada” – ou seja, a sensação de que a derrota iminente poderia fazer com que até mesmos os poucos fiéis desistissem de votar com o governador.
A condição de denunciado de Júlio Garcia é a esperança no Centro Administrativo para inverter essa tendência. Pela ordem sucessória, o presidente da Alesc assume o governo se o afastamento de Moisés e Daniela for confirmado pelo tribunal misto composto por cinco deputados eleitos entre os pares e cinco desembargadores sorteados pelo Tribunal de Justiça. A legitimidade para que Júlio Garcia assuma o governo, embora ainda não seja réu, está na mesa. Além disso, a PF havia indiciado o parlamentar por outros três crimes, entre eles o de corrupção, em casos ainda em análise pelo MPF.
A denúncia contra Júlio Garcia na Operação Alcatraz permite ao governador vincular o processo de impeachment à possível ascensão do deputado estadual ao governo do Estado. Essa narrativa já havia sido utilizada pela defesa de Daniela Reinehr em pedir suspeição da desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta no julgamento de liminares sobre o impeachment por ser esposa do desembargador aposentado Cesar Abreu, advogado de Júlio Garcia no caso Alcatraz.
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Na época, a advogada Karina Kufa afirmou que “é cristalino, portanto, o interesse do deputado estadual Júlio Garcia na retirada do governador e da vice-governadora da chefia do Poder Executivo, eis que representará a assunção dele no comando do Estado e, por consequência, dar-lhe a mudança para foro especial do Superior Tribunal de Justiça”. A questão ficou nos bastidores porque a desembargadora aceitou o pedido de suspeição e deixou o caso.
Com denúncia do MPF o governo deve jogar luz sobre essa fragilidade de Júlio Garcia – avaliado pelo Centro Administrativo como o inimigo a ser enfrentado na questão do impeachment. Resta saber qual impacto terão no plenário quinta-feira, na votação da abertura do processo de impeachment, tanto a denúncia do MPF contra o presidente da Alesc quanto a estratégia governista de focar nas supostas intenções dele a causa de toda a ruína da relação de Moisés com o parlamento.
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