O número 17 uniu os destinos de Jair Bolsonaro e Carlos Moisés da Silva, presidente e governador catarinense eleitos em outubro, em uma movimento brusco de mudança na política há muito pedida pelo eleitor e ignorada pelos partidos tradicionais. Nesta quarta, em Brasília, ambos voltaram a se encontrar em agenda pública, a reunião de Bolsonaro com 20 novos governadores.

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Apesar da vinculação partidária, é nítido que não há maior proximidade entre o presidente e o governador eleito. Ambos tiveram poucos encontros durante a campanha eleitoral e no segundo turno Bolsonaro chegou a anunciar uma neutralidade que formalmente durou dois dias. Nessa primeira agenda de eleitos, Moisés foi mais uma vez ofuscado em uma ribalta que contava com o paulista João Dória (PSDB), o fluminense Wilson Witzel (PSC) e o brasiliense Ibaneis Rocha (MDB).

Membro da prestigiada plateia de eleitos, Moisés deve ter gostado do que ouviu. Futuro superministro da Economia, Paulo Guedes reafirmou o desejo de refazer o pacto federativo, equilibrando melhor com Estados e municípios a distribuição de recursos hoje fortemente concentrada na União. O futuro czar da economia fez um aceno imediato de alívio a governadores e prefeitos com a repartição de parte dos cerca de R$ 120 bilhões que o governo federal espera arrecadar com o leilão da transferência de direitos de exploração do pré-sal. Um alívio para quem, como Moisés, assumirá o poder com a folha de pagamento acima do limite e a arrecadação ainda titubeante.

Claro que há contrapartidas. Guedes quer os governadores engajados junto a suas bancadas pela aprovação das reformas, especialmente a da previdência. É uma lógica política já tentada sem sucesso pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) – foram várias reuniões com governadores em busca dessa composição. Por essa lógica, o governador faria a pressão sobre as bancadas federais do Estado que comanda.

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Essa lógica não funcionou com Dilma justamente por causa da concentração de recursos em Brasília. Os governadores têm influência junto às assembleias legislativas, onde os parlamentares dependem diretamente de acesso à máquina do Estado. Os deputados federais levam uma vida à parte, baseada nas emendas, agora impositivas, e o no trânsito federal. É possível que a pressão direta dos prefeitos nas bases tenha mais efeito sobre eles que a dos governadores.

Mas se o diagnóstico de Guedes está incorreto, o problema não é de Moisés e dos demais governadores. Há uma janela aberta para rediscutir a concentração de recursos em Brasília e precisa ser aproveitada. Outra janela de interesse direto do Estado deve ser apresentada mais à frente e tem relação com a posição liberal do futuro ministro.

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No final dos anos 1990, quando o ex–presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu início ao plano de desestatização, os Estados que aderiram a ele e aceitaram se desfazer das companhias locais, foram financeiramente ajudados. Na época, o governador Paulo Afonso Vieira (PMDB) não aceitou abrir essa janela. É possível que a história se repita e estará nas mãos de Moisés fazer essa escolha.

 

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