Na primeira entrevista que deu como candidato a governador de Santa Catarina, em agosto de 2018, um praticamente desconhecido Carlos Moisés da Silva (PSL) disse a mim e ao colega Augusto Ittner não ser um “mini-Bolsonaro”. Próximo da metade do primeiro ano de um governo em que foi eleito com 71% dos votos na carona do 17 do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o governador concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em que acaba reforçando as diferenças em relação ao comandante do Palácio do Planalto.

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Na nova entrevista, Moisés lembra que foi criticado internamente por aquela frase, já que toda a ideia da campanha do PSL-SC era colar no prestígio do Bolsonaro entre os catarinenses – onde teve 75% dos votos válidos no segundo turno. Ao Estadão, o governador disse que Bolsonaro deveria priorizar pautas mais relevantes – e citou a regulamentação do estudo em domicílio e as mudanças no código de trânsito como exemplos de temas que não deveriam ser temas centrais de governo.

Moisés posicionou-se como um homem de centro-direita, disse não ter “ojeriza à defesa de minorias” e lembrou que recebeu no gabinete o movimento Mães pela Diversidade e o Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

— Em Santa Catarina temos 20 mil famílias assentadas. Elas existem. Não são uma ficção. Um estadista tem que governar para todas as pessoas.

A entrevista foi comemorada no Centro Administrativa e teve endosso discreto de outras lideranças do partido. O PSL catarinense e o governo Moisés vivem um bom momento. No campo da gestão, a aprovação sem votos contrários da reforma administrativa, embora tímida e com algumas concessões, dissipa um pouco o temor de que o inexperiente Moisés não soubesse dialogar com o parlamento.

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No partidário ainda existem alguns focos de disputa interna acirrada – Joinville e Palhoça, especialmente – mas há uma trégua entre o presidente estadual Lucas Esmeraldino e os deputados federais Carolina de Toni, Daniel Freitas e Coronel Armando. A executiva do estadual do partido, que vence no final do mês, deve ser prorrogada sem discussões. Esmeraldino e a bancada federal ainda tentam trazer para Santa Catarina a convenção nacional do partido.

Nas redes bolsonaristas do Estado, no entanto, a entrevista ao Estadão foi fortemente criticada. Especialmente a diferenciação em relação a Bolsonaro, como se o governador desse as costas à onda que elegeu o desconhecido coronel reformado dos Bombeiros.